Boscán ouviu pelo celular seu nome completo, identidade e endereço, antes de ser intimidado e declarado “alvo militar”

LEONARDO WEXELL SEVERO/Hora do Povo

O líder indígena Wayú, Miguel Iván Ramírez Boscán, irmão da representante eleita à Câmara pelos colombianos no exterior, Carmem Ramírez, foi ameaçado de morte por milicianos nesta segunda-feira (6). Esta é a terceira tentativa de intimidar explicitamente a atuação política do dirigente, que tem destacada atuação na área comunitária e de defesa dos direitos humanos no departamento (Estado) Guajira, no Mar do Caribe. Nas duas primeiras vezes, o grupo paramilitar Águias Negras – o chamado Clã do Golfo – emitiu panfletos assinados, amplamente divulgados nas redes sociais.

Agora, informou Miguel, um homem com sotaque interiorano, que dizia ser membro do Clã do Golfo, ligou para ele repetindo o seu nome completo, informou o número da carteira de identidade e o endereço de sua residência em Maicao, cidade localizada no centro-leste de La Guajira.

Quando o dirigente utilizou o celular para gravar a chamada, o miliciano disse: ‘Não se preocupe, Don Miguel, não se preocupe, grave a ligação, patrão, eu tenho, são requisitos, você entende… Não se preocupe, Don Miguel, porque se você é uma pessoa que gosta de informar a polícia, eu imediatamente dou a ordem para declará-lo alvo militar…’. Depois disso, a pessoa ameaçadora encerrou a ligação”, relatou.

Diante do ocorrido, a Força Feminina Wayú fez uma conclamação para que sejam garantidos mecanismos para salvaguardar a vida de Miguel, que realiza um reconhecido trabalho comunitário, bem como da sua família. “Urgente e imediatamente, solicita-se a prestação de garantias investigativas e de proteção para Miguel Ramírez Boscán, bem como para a mãe”, esclarece a entidade.

A irmã, Carmem Ramírez, é uma ativista feminista e ambientalista do partido Colômbia Humana e do Pacto Histórico. Ela teve que deixar o país em 2011 após receber sucessivas ameaças de morte, passando a viver em Berna, na Suíça.

REUNIÃO URGENTE

Com o segundo turno das eleições presidenciais marcadas para o próximo dia 19 de junho, começaram a circular novos grupos armados no departamento – onde o candidato oposicionista Gustavo Petro, do Pacto Histórico, venceu a ultradireita. Ocorreram incursões aterrorizantes nas comunidades, o que torna fundamental a presença da Unidade Nacional de Proteção (UNP) no âmbito de um sistema de segurança coletiva, alertam os Wayú.

Com o voto não sendo obrigatório na Colômbia, há quase duzentas cidades dominadas pelos paramilitares que impõem toque de recolher, na tentativa de evitar a vitória de Petro.

Por conta da inoperância – e complacência – do governo de Iván Duque, que aposta todas as suas fichas na candidatura de Rodolfo Hernández, que já se confessou um admirador de Adolf Hitler, a Força Feminina Wayú faz um apelo à solidariedade.

“Pedimos às organizações departamentais, nacionais e internacionais que demonstrem e estendam este apelo à paz, para que o trabalho dos nossos processos comunitários não seja silenciado pelo fuzilamento daqueles que se opõem a viver num território mais justo, livre dos ultrajes da corrupção e interesses transnacionais alheios às nossas lutas e lemas de vida”, concluiu o comunicado.

A campanha de Petro defende “um governo que faça respeitar o artigo 12 da Constituição” colombiana, que estabelece que “ninguém será submetido à desaparição forçada, a torturas nem a maus tratos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes”. Na tradução dos Wayú: “Ninguém poderá levar por cima de seu coração a ninguém e nem poderá fazer-lhe mal, ainda que pense e fale diferente”.

 

*Recentemente a Agência ComunicaSul – integrada pelo jornal Hora do Povo – esteve presente na Colômbia graças ao apoio das seguintes entidades: da Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc); mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais e centenas de contribuições individuais.

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