Até o momento, três profissionais estão sendo perseguidos; governo ucraniano pede sanções às pessoas que acompanham o processo de votação

Gabriela Beraldo e Vanessa Martina Silva, de Sharti (Rússia)

Um jornalista alemão corre o risco de ser preso, outro, que prefere ter a nacionalidade preservada, pode perder o emprego no importante veículo em que trabalha e uma repórter holandesa foi praticamente banida de seu país e entrou na lista de pessoas “caçadas” pelo governo ucraniano.

Essa é a situação de alguns dos observadores internacionais que estão visitando centros eleitorais durante o referendo sobre a incorporação – ou não – de territórios na Ucrânia à Rússia.

Em 2014, as regiões de Donetsk e Lugansk decidiram se tornar independentes de Kiev e se autoproclamaram repúblicas populares, o que não foi reconhecido pelo poder central ucraniano e, desde então, uma guerra civil assola o país.

Após o incremento do conflito com a operação levada a cabo pela Rússia para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, Donetsk, Lugansk e também as regiões de Kherson e Zaporíjia decidiram realizar um referendo para consultar a população sobre o desejo de se incorporar – ou não – à Federação Russa. A consulta, que ocorre desde a última sexta-feira (23), termina na próxima terça (27).

Jornalista Sonja Van der Ende no memorial das Vítimas do neonazismo ucraniano

Perseguição

Stefan Schaller é gerente da companhia Energie Waldeck-Frankenberg GmbH, uma pequena empresa alemã, e hoje trabalha mais com jornalismo. Esteve na Rússia para fazer parte da delegação de observadores eleitorais e acabou sendo convocado pela Alemanha para se reportar à polícia.

De acordo com informações, ele recebeu um e-mail informando a demissão. Além disso, se voltar à Alemanha poderá enfrentar três anos de prisão. Mas qual o crime que ele teria cometido, perguntamos à jornalista Sonja Van der Ende, que mora na Rússia há seis meses, também ela perseguida na Europa: “ele esteve em Donbass [região que engloba Donetsk e Lugansk] e todos que visitam esta região não são criminosos de guerra, mas inimigos do Estado” na Europa.

Sonja esteve em Donbass não apenas uma, mas nove vezes acompanhando as ações militares russas, totalizando um período de aproximadamente dois meses. Seu crime foi, em suas palavras, “fazer algo não permitido pelo governo europeu e holandês, porque a Rússia é considerada inimiga”.

Ela avalia que a liberdade de expressão e de imprensa está prejudicada na Europa. Quando ela contou que muitas pessoas em Donbass foram mortas por milícias neo-nazistas, realmente foi assim. Ela esteve em uma fábrica de aço e viu como milícias ucranianas portavam broches com o símbolo nazista SS, além do livro Mein Kampf, escrito por ninguém menos que Hitler. Porém, “na Europa eles dizem que não é verdade. Tem muita gente boa ajudando o povo ucraniano, mas estão matando a população de Donbass”.

Outro jornalista, que prefere ter sua nacionalidade preservada, foi demitido do jornal em que trabalha, o maior em sua região, porque concedeu entrevista opinando sobre o referendo. A embaixada russa em seu país repercutiu a declaração e a ucraniana pediu sua demissão.

Assédio

Em alinhamento com a comunidade internacional que não reconhece o direito da população russa na Ucrânia decidir seu futuro, meios de comunicação hegemônicos começaram um verdadeiro assédio contra os observadores internacionais.

O jornal italiano Coriere de la Siera publicou uma matéria em tom bastante enfático contra os observadores, chamando o processo de “farsa” e destacando a presença de 13 italianos.

O comissário de direitos humanos da Ucrânia, Dmitry Lubinets, pediu ao serviço de segurança de 20 países que imponha sanções a 39 observadores internacionais do referendo.

Ele pediu que observadores estrangeiros que cruzaram “ilegalmente” a fronteira sejam considerados personas-non gratas na Ucrânia e “outros países democráticos”.

Esse tipo de ação é bem conhecida no país e tem por objetivo promover desestabilização psicológica.

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