Rodrigo Bustillos, destacada liderança da juventude do MAS

“Bloqueio por tempo indefinido promovido pelo governador Camacho e sua turba é uma ditadura sobre a região”, afirma Rodrigo Bustillos, assessor do Movimento Ao Socialismo (MAS) no Conselho Municipal de Santa Cruz de la Sierra

LEONARDO WEXELL SEVERO, de Santa Cruz de la Sierra/Bolívia

“O que está acontecendo neste momento no Estado é uma ditadura sobre a região, por meio de um bloqueio indefinido promovido pelo governador Luis Fernando Camacho e por suas hordas neofascistas”, denunciou Rodrigo Bustillos, assessor do Movimento Ao Socialismo (MAS), no Conselho Municipal de Santa Cruz de la Sierra, em entrevista exclusiva.

Liderança do partido do presidente Luis Arce e do ex-presidente Evo Morales, Bustillos informou que os autodenominados “cívicos” da União Juvenil Cruzenhista são os mesmos que defenderam a queima da Whipala – o símbolo indígena oficial do país – durante o golpe de Jeanine Añez contra Evo em 2019.

“São milícias manejadas por grandes grupos corporativos empresariais, industriais e midiáticos – como as emissoras Unitel e Rede Uno – que nos têm cativos há mais de 30 dias por paralisações e bloqueios indefinidos com os quais tentam impor sua agenda por cima dos interesses da coletividade. É uma ação inconsequente que busca degenerar a democracia, que significa uma deterioração da economia com graves prejuízos, principalmente para os mais humildes e desprotegidos”, acrescentou.

Liderança da juventude do MAS, Bustillos explicou que, “na prática, o bloqueio representa uma violação da oligarquia ao conjunto da população como o seu direito de ir e vir, ao trabalho e à educação, havendo uma censura terrível a tal extremo que se alguém discorda deles é convertido em inimigo de Santa Cruz”.

“A situação chega a tal ponto de que se a pessoa é de outro Estado passa a ser pressionada a regressar por não ser daqui. Para esses bandos, a perseguição e o preconceito não têm nenhum limite”, acrescentou.

PREJUÍZO POR BLOQUEIO ULTRAPASSA UM BILHÃO DE DÓLARES

Lembrando que setores produtivos que discordaram da visão desta casta oligárquica receberam como resposta pneus incendiados em frente à sua entidade empresarial, o líder juvenil frisou que “o bloqueio está causando perdas que já ultrapassam um bilhão de dólares, o que fez com que vários setores sociais iniciassem a se organizar e mobilizar, começando a haver duras confrontações, inclusive com mortos na cidade”. “São inúmeros setores sociais como os transportistas, os vendedores ambulantes, comerciantes e trabalhadores que, vindos dos locais mais distantes, passaram a realizar marchas e desbloquear essas barricadas erguidas pelos grupos paramilitares”, acrescentou.

Até o momento, informou Rodrigo Bustillos, “acumulamos mortos e feridos, e todo tipo de agressões a mulheres, idosos e a trabalhadores da saúde”. “Houve casos em que até mesmo quem está levando os seus falecidos é barrado, algo completamente irracional. A situação é extremamente crítica, a economia está pelo piso e os direitos fundamentais vêm sendo permanentemente violados”, protestou.

De acordo com o dirigente juvenil, “vale ressaltar que Santa Cruz é o motor da economia boliviana, o principal catalisador da economia nacional, com cerca de quatro dos 12 milhões de habitantes do país”. Conforme a Associação de Pequenas e Médias Empresas, apontou, “já perdemos 15% dos nossos empregos, um percentual expressivo da nossa mão de obra, porque os melhores meses para a produção e comércio são justamente outubro e novembro”.

Um ponto relevante, informou Bustillos, é que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário estão atendendo uma a uma a reivindicação destes grupos, como a antecipação da realização do Censo de População e de Moradia, que tem como desdobramento a maior participação de Santa Cruz no Orçamento nacional e na representação parlamentar, “não havendo, portanto, nenhuma justificativa para a continuidade do protesto”. E o Censo só irá ocorrer em 2024, e não aconteceu anteriormente, disse, porque a extrema direita realizou o golpe de Áñez – que se encontra presa pelos assassinatos e inúmeros crimes praticados – e, posteriormente, aconteceu a epidemia de coronavírus.

“A principal bandeira de luta desta oligarquia foi o censo, que nada mais é do que a contagem estatística da população. O que fizeram foi transformar um simples trâmite administrativo em toda uma odisseia de lutas e confrontações terríveis, manejadas pela elite dominante. Em reiteradas oportunidades, o governo de Luis Arce convocou para que se reunissem no espaço em que, por lei, se deveria debater, no caso o Conselho Nacional de Autonomia. É este espaço que deve reunir o presidente, ministros, os nove governadores, os representantes de todas as 327 prefeituras do país, os membros da Federação dos Municípios e os representantes das autonomias indígenas e regionais. São eles, no que se refere à democracia representativa, porque pelo voto foram eleitos, quem deveria sentar e definir as questões relativas ao censo ou ao pacto fiscal, de distribuição da riqueza”, declarou o assessor do MAS. A antecipação do censo para 2023, como agora se apegam, reiterou Bustillos, já foi comprovado que é inviável por questões técnicas, tratando-se de uma jogada meramente oportunista.

SABOTAGEM DE CAMACHO

Neste cenário, relatou, “o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, não esteve presente”. “Este foi o primeiro ponto de inflexão e ruptura por parte do governador de Santa Cruz. Numa segunda convocatória realizada em Cochabamba, quando já nos encontrávamos em pleno bloqueio, Camacho também não compareceu. Isso quer dizer que o Censo de População e Moradia nunca foi sua prioridade, mas interesses políticos de desestabilização para provocar a ruptura da Bolívia a partir de Santa Cruz. Os golpistas manipulam abertamente para propagandear a ‘independência’ com o Estado plurinacional”, disse.

Recordando o praticado com a tentativa da implementação da chamada “Meia Lua”, quando buscaram fragmentar o país em 2008, para incorporar os Estados de Beni, Pando e Tarija, Bustillos avalia que hoje os divisionistas estão mais isolados. Há pouco, o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg tinha sido expulso do país.

“O fato é que estes setores corporativos são movidos por outras bandeiras de luta e que, à medida que vão sendo contemplados, apresentam outras reivindicações, mantendo o bloqueio indefinido. É algo que se assemelha ao neofascismo bolsonarista, no que José Saramago aponta como ‘democracia degenerada’, que viola abertamente o direito dos demais. O governo já se comprometeu a fazer com que seja criada uma lei para garantir a realização do Censo em 2024, mas, mesmo assim, seguem com a paralisação e o bloqueio, o que é uma agressão insustentável à liberdade e aos direitos da coletividade”, concluiu.

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