Movimentações na reta final de campanha fizeram com que resultados fossem imprevisíveis e, por isso, muito celebrados no país

VANESSA MARTINA SILVA, FELIPE BIANCHI, GUILHERME RIBEIRO*

Com mais de 11 milhões de votos, Gustavo Petro é o novo presidente da Colômbia, rompendo um tabu histórico e consagrando-se como o primeiro líder progressista a ocupar o Palácio de Nariño. Ao seu lado, como vice-presidenta estará Francia Márquez, líder popular negra e feminista.

Com 99,63% das urnas apuradas na contagem rápida, a coalizão Pacto Histórico obteve 50,48% dos votos válidos, 3,2% a mais que os 10,53 milhões, 47,26% recebidos pela Liga, do direitista Rodolfo Hernández e Marelen Castillo.

A participação popular foi histórica, superando a ocorrida no primeiro turno. Mais de 22,57 milhões de pessoas foram às urnas, 57,88% dos cidadãos aptos a votar. Em uma votação que se esperava acirrada, os quase 3% a mais de votos fizeram toda a diferença, já que no primeiro turno 54,91% foram às urnas.

Das 34 seções de votação do país, 32 são estados, somados à capital da Colômbia, Bogotá, e os consulados no exterior.

Petro obteve a maioria em 16 estados e na capital. Hernández, por sua vez, também conseguiu a maioria em 16 estados e nos consulados.

Era de se esperar que o candidato da Liga recebesse votos dos eleitores de Fico Gutiérrez, o que se concretizou. O uribista havia declarado, logo após a derrota no primeiro turno, que seus eleitores deveriam escolher o candidato direitista.

O mapa eleitoral ficou bem definidos no país. Petro venceu no Caribe e na costa do Pacífico, onde se concentram comunidades empobrecidas, negras e indígenas. Também obteve maioria na Colômbia amazônica e na capital, Bogotá.

Os resultados surpreendentes vieram dos departamentos de Quindio e Risaralda, onde Petro teve a maioria na primeira volta e que, neste domingo (19), escolheram Hernández em sua maioria. Confira o mapa:

A cor laranja se refere aos locais em que Gustavo Petro conquistou a maior parcela de votos; as demais regiões são relativas a Rodolfo Hernández (Imagem: Registraduria Colômbia)

Apesar do favoritismo que acompanhou o progressista Gustavo Petro ao longo da corrida presidencial, o risco de fraudes eleitorais, o apoio do uribismo a Rodolfo Hernández a possibilidade de unificação de amplas parcelas da sociedade contra um candidato de esquerda se configuraram como sombras nesta segunda etapa.

A violência de grupos paramilitares em regiões cruciais a Petro e a possibilidade de cerceamento do direito ao voto de trabalhadores por empresários em todo o país também representaram desafios a serem superados pela frente ampla liderada por Petro e pelos apoiadores de seu projeto de transformação para a Colômbia.

Do total de cédulas contabilizadas, 0,13% não apresentaram marcação, 1,2% foram nulas e 98,69%, válidas. Entre as válidas, 97,75% foram para candidatos e 2,24%, em branco.

 

DUQUE E HERNÁNDEZ ACEITAM RESULTADO

Derrotado no pleito deste domingo, Hernández reconheceu o revés através de sua conta no Twitter. Em vídeo gravado logo após fim da apuração dos votos, o adversário de Petro disse aceitar os resultados “como deve ser se queremos instituições firmes”. Momentos depois, ele acrescentou ter telefonado a Petro para parabenizá-lo pelo triunfo.

Intimamente ligado ao uribismo, o presidente Iván Duque publicou uma mensagem no Twitter pouco tempo após a confirmação da vitória de Petro, na qual parabenizou o candidato: “Liguei para Gustavo Petro para felicitá-lo como presidente escolhido pelos colombianos. Combinamos de nos reunirmos nos próximos dias para iniciar uma transição ordenada, harmônica e institucional”.

A rapidez e o teor das manifestações de Duque afastam, por ora, a possibilidade de golpismo e fraude que poderia surgir da contestação dos resultados divulgados neste domingo.

* A Agência ComunicaSul está na Colômbia cobrindo o segundo turno das eleições presidenciais graças ao apoio das seguintes entidades: Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc); mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Revista Fórum, Viomundo e centenas de contribuições individuais.

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