“Estamos em uma situação de guerra, em meio à desinformação da mídia, desorganização e falta de esclarecimento sobre quais são os objetivos do Governo [Daniel Noboa] para resolver este conflito”, alertou a advogada equatoriana Angélica Porras Velasco, durante entrevista coletiva concedida aos jornalistas da Agência ComunicaSul na última quinta-feira (11).

Por Érika Ceconi/ComunicaSul
Foto: José María León 

Não é de hoje que o país andino vive uma crise social, política e econômica. Segundo ela, este cenário se deve a fatores externos como a migração do fluxo do tráfico de drogas e internos como a dolarização da economia, a implementação de políticas neoliberais, o desmonte do Estado, a criminalização dos movimentos sociais e perseguição aos governos progressistas.

A advogada, que participa da Ação Jurídica Popular, coletivo de intelectuais e cidadãos que atuam na reivindicação dos direitos constitucionais no país, apresentou dados alarmantes como o aumento significativo das mortes violentas no país que, durante o governo de Rafael Correa (2007 a 2017), era de cinco para cada 100 mil habitantes, hoje este número subiu para 43 e, em lugares com maior conflito, pode chegar a 100 ou mais.

Outro fator que, de acordo com Angélica, contribuiu para que o narcotráfico migrasse para o país é o fato de que a economia é dolarizada, o que facilita a lavagem de dinheiro. “A dolarização oferece o espaço adequado para lavagem de dinheiro do narcotráfico e os bancos são os maiores beneficiários deste sistema”, destaca.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Além disso, a ascensão da direita e a atuação dos governos, nos últimos anos, em relação às políticas sociais favoreceram o aumento da desigualdade no Equador criando um ambiente propício para a atuação dos narcotraficantes. “Lenín Moreno e Guillermo Lasso e suas políticas neoliberais eliminaram as políticas públicas para as questões sociais, desmontaram o Estado, não investiram em segurança, educação, tudo isso com o apoio dos meios de comunicação”, critica a equatoriana.

Neste sentido, ela fala sobre o papel que a mídia hegemônica exerce para legitimar a violência. “Os grandes meios de comunicação contribuem para a ideia de que a paz se consegue com bala. Esse discurso está se impondo em nosso país, é fundamental o apoio para esta discussão: se opor aos militares não é estar ao lado do narcotráfico”, ressalta.

Ao ser questionada sobre como os países latinoamericanos podem contribuir para uma resolução da crise equatoriana, Angélica disse que “é importantíssimo que os países amigos nos ajudem a passar por essa situação”, ela acredita que também é necessária a “criação de um Conselho de Segurança regional que planeje a política de enfrentamento das drogas na América do Sul com liderança de países como Brasil ou México”, informa.

Organizado pela ComunicaSul em parceria com o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Diálogos do Sul, a conversa contou com participação de Leonardo Wexell Severo (repórter da editoria internacional do jornal Hora do Povo) e Caio Teixeira, jornalistas da ComunicaSul que cobriram in loco a eleição no país irmão, realizada entre agosto e outubro. Também integrantes da ComunicaSul, Vanessa Martina-Silva (editora da Diálogos do Sul) e Felipe Bianchi (jornalista do Barão de Itararé).

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