A capital argentina ficou tomada pelos manifestantes (Emiliano Lasalvia/AFP)

No conjunto das manifestações por toda a Argentina o protesto contra a devastação de Milei teve a presença de mais de um milhão reafirmando “o acesso ao ensino superior público como um direito do povo”

Hora do Povo

No conjunto das manifestações por toda a Argentina o protesto contra a devastação de Milei teve a presença de mais de um milhão reafirmando “o acesso ao ensino superior público como um direito do povo”

800 mil argentinos participaram da marcha em defesa da educação pública ameaçada por Milei, nesta terça-feira (23), em Buenos Aires. Segundo informa o jornal argentino Página 12 as manifestações que também ocorreram em Córdoba, Mendoza, San Luis, San Juan, Santa Cruz, Bariloche e em muitas outras cidades, trouxeram para as ruas do país mais de um milhão que ampliaram as reivindicações para questionar a política de corte de recursos e arrocho salarial que Milei tem imposto em seu destrutivo desgoverno.

“Defendemos o acesso ao ensino superior público como um direito. Acreditamos na capacidade equalizadora do ensino público gratuito, no poder transformador da universidade como formidável ferramenta de mobilidade social ascendente e na contribuição diferencial e substantiva da produção científica”, afirmou o documento lido no evento central por Piera Fernández De Piccoli, presidente da Federação Universitária Argentina (FUA), de Córdoba.

“Pátria se defende com mais Pátria”, afirmaram os manifestantes (Leandro Teyssere)

De acordo com Piera, “todos os problemas que temos se resolvem com mais educação e universidades públicas, com mais investimento em ciência e tecnologia”. “Queremos que nossas instituições sejam o dispositivo que permita à Argentina reconstituir as desigualdades estruturais e embarcar no caminho do desenvolvimento e da soberania”, acrescentou.

Conforme o levantamento da Associação Civil para a Igualdade e Justiça, embora 80% dos estudantes universitários sejam educados em universidades públicas, o orçamento entregue pelo governo Milei este ano é o mais baixo desde 1997. A resposta foi contundente, com as organizações sociais, sindicais, de direitos humanos, feministas, de crianças e adolescentes, centros de estudantes do ensino médio e de aposentados se fazendo ouvir.

Para as Mães da Praça de Maio Linha Fundadora, Taty Almeida, “não estou aqui somente como mãe, mas também como docente, porque caí na escola pública. Devemos defender a educação pública, as universidades, porque o direito à educação é um dos direitos humanos”.

Da mesma forma o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, assinalou que “a Universidade pública e gratuita é uma das grandes conquistas do nosso povo e não vamos desistir dela”. Com esta direção, os sindicatos docentes de todo o país se somaram para a construção de uma ampla barreira contra os ataques neoliberais de Milei.

GOVERNADOR DE BUENOS AIRES NAS RUAS CONTRA O “EGOÍSMO E O INDIVIDUALISMO”

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, junto com prefeitos e autoridades, assinalou que “esta é a luta dos estudantes universitários, mas reflete toda uma cultura do nosso país: estamos em defesa do instrumento que nos permitiu sonhar com um futuro melhor”. Kicillof elogiou a “natureza coletiva e solidária” da massiva mobilização como “uma demonstração convincente contra o egoísmo e o individualismo”. “A marcha foi muito mais do que uma marcha da comunidade universitária”, disse o governador, confirmou que Milei “deve ser chamado a pensar e a refletir”. A resposta apareceu impressa em centenas de faixas e em milhares de cartazes caseiros, adesivos, camisetas impressas, bonés e máscaras, estampando o não à devastação de Milei:  “Rebelde-se e eduque-se”, “Mais dinheiro para educar, não para reprimir”, “Mais Telam, menos Twitter” e “Milei não nos quer livres, nos quer ignorantes”.

CENTRAIS SINDICAIS PARTICIPAM

“Nós nos mobilizamos para defender um pilar fundamental da nossa sociedade, a Universidade Pública. Garantir o acesso à educação para todos de forma igualitária que proporcione oportunidades para o futuro e impulsione o progresso da nossa Pátria”, destacou Héctor Daer, liderança da Confederação Geral do Trabalho (CGT) que, ao lado do caminhoneiro Pablo Moyano, carregou uma bandeira junto com outros dirigentes da diretoria como Rodolfo Daer (Alimentação), Luis Cáceres (Construção Civil), Sergio Palazzo (Bancários), e Sergio Romero do Sindicato dos Professores Argentinos (UDA) .

“Esta é uma mensagem muito forte para o governo que atacou a educação pública e a sociedade como um todo, que reagiu com esta mobilização impressionante repetida em todas as cidades do país”, ressaltou Abel Furlan, liderando a coluna da União Operária Metalúrgica (UOM), destacando a massiva participação da CGT.

O secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA-T) e deputado nacional, Hugo Yasky, saudou a convergência plural dos mais diferentes setores e expressões da sociedade, somando estudantes, professores universitários, e representantes dos movimentos sindicais e sociais: “O mundo pôde ver que na Argentina a educação pública é um bem que o povo não está disposto a ser entregue”. Parece deplorável, assinalou Yasky, que “em um país que teve cinco vencedores do Prêmio Nobel de universidades públicas, tenhamos um presidente com tamanha dimensão de ignorância”.

O secretário-geral da CTA Autônoma, Hugo Godoy frisou que a multitudinária manifestação enche de orgulho o povo argentino “que sai às ruas unido”. “Quando defendemos a universidade pública estamos defendendo a soberania. Precisamos que o DNU (Decreto de Necessidade e Urgência), com todos os seus artigos de precarização e privatização, seja revogado, pois possibilita que a educação pública seja desfinanciada, que os salários sejam reduzidos e que os aluguéis sejam aumentados”.

“Éramos milhares e milhares de estudantes e trabalhadores que se mobilizaram massivamente em todo o país para dizer a Milei que ele não pode continuar governando por decreto, ajustando e empobrecendo milhões de argentinos”, enfatizou o líder da CTA Autônoma.

Dando continuidade à luta, as centrais sindicais convocaram uma mobilização conjunta para o 1º de maio (quarta-feira) e uma greve nacional para o dia 9, aumentando a pressão contra o desgoverno.

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