O número de trabalhadores mortos anunciado na explosão da refinaria de Pajaritos, em Coatzacoalcos, Veracruz, operada pela empresa Petroquímica Mexicana de Vinil, chegou a 32, na última quarta-feira. Também ficaram feridos na explosão do dia 20 mais de 160 – 13 em estado grave – além dos desaparecidos.
Leonardo Wexell Severo

Conforme o líder oposicionista Manuel López Obrador, do partido Movimento Regeneração Nacional (Morena), não se tratou de um acidente, como quer fazer crer o governo. A tragédia, assegurou, é uma conseqüência da corrupção, resultado da política neoliberal que “associou” a estatal Pétroleos Mexicanos (Pemex) à empresa privada Mexichem, responsável pelo desastre no complexo que produz um produto químico perigoso utilizado para fabricar tubos de PVC.

“Estes corruptos também querem privatizar as refinarias e em Pajaritos se privatizou a planta petroquímica. Se entregou a um banqueiro, Antonio del Valle, que não pensa nas pessoas, porque são muito desumanos, e para ganhar mais demitiram pessoal. Havia dois mil e 200 trabalhadores, a planta foi reduzida inicialmente a mil e quinhentos e, por fim, deixaram somente 700. Isso significou sacrificar a segurança e a manutenção”, denunciou.
De acordo com Obrador, é o mesmo que querem fazer com as demais seis refinarias existentes no país, daí a necessidade de “cancelar estas mal chamadas reformas estruturais”.
Uma semana antes da explosão, o subdiretor de Produção Petrolífera da Pemex, Jorge Freyre, havia enviado um ofício aos diretores das seis refinarias do país alertando para os riscos da falta de recursos para a manutenção. O memorando apontava: “devido às limitações para a dotação de recursos orçamentários e gastos de operação, se solicita uma supervisão e uma vigilância extremas das condições de operação e dos equipamentos das plantas industriais”. Datado de 13 de abril, o documento sublinhava a necessidade de cuidados especiais para a operação, frente a inexistência de dinheiro para trabalhos extraordinários.
Operários que conseguiram fugir do local relataram que no momento da explosão se encontravam no lugar cerca de 200 pessoas, várias delas trabalhando numa torre que estava em manutenção. A correria foi generalizada em meio a uma nuvem de cloro gasificado que impedia a visibilidade e cuja onda expansiva lançou a muitos pelos ares, multiplicando queimaduras e fraturas. A falta de instruções de segurança, disseram, potencializou os danos.
Levantamento feito pela representação dos trabalhadores aponta que a Mexichem subcontratou a outras empresas para que reabilitasse uma área do complexo, também com operários subcontratados, a maioria jovens, numa sucessão de erros.
Vários dos sobreviventes asseguraram que durante a manhã da quarta-feira chegaram a ser evacuados em duas ocasiões devido a vazamentos, antes da catástrofe, mas logo mandados de volta ao trabalho.
Dirigente da Coordenadora pela Defesa da Pemex, Mario Díaz Ortega, assinalou que a privatização do complexo Pajaritos, com a sua desincorporação do regime de domínio público, “foi quem propiciou a tragédia”.
Para o líder da União Nacional de Técnicos e Profissionais Petroleiros, Moisés Flores Salmerón, o ocorrido foi resultado de que se retirou o pessoal de manutenção da Pemex e se deixou a unidade sob a supervisão da Mexichem, que demonstrou sua pouca experiência para realizar manutenção em complexos de alto risco.
Salmerón reafirmou que no dia da explosão os trabalhadores perceberam o vazamento, tanto que evacuaram a unidade, “mas logo se ordenou que regressassem, já que para o sistema neoliberal cada segundo não trabalhado representa uma perda de lucro”. Neste caso, lamentou, “significou perda de vidas humanas”.
Os representantes dos trabalhadores da Pemex também denunciaram a política de desmonte da estatal, com a degradação dos direitos e das condições de trabalho, o que tem multiplicado as contratações temporárias e de alto risco.
Neste momento, centenas de trabalhadores permanecem fora do complexo, aguardando para saber se serão recontratados para fazer a limpeza ou enviados a outras áreas, enquanto muitos outros vem negada até mesmo a ajuda psicológica para superar o trauma.

 

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