José Ojida, professor de Oaxaca, dá seu testemunho. Foto: Lidyane Ponciano

Educadores denunciam crimes contra a educação, a democracia e a soberania

Leonardo Wexell Severo
 
Os desmandos e atropelos do governo de Peña Nieto “contra a educação, a democracia e a soberania” foram denunciados por duas expoentes lideranças do magistério mexicano presentes ao Encontro Pedagógico Latino-Americano, realizado em Belo Horizonte nas últimas quinta e sexta-feira.
A professora doutora Gabriela Vasquez, do programa de pós-graduação de estudos latino-americanos e o professor José Antônio Altamirano Ojida, de Oaxaca, membro da Coordenação Nacional dos Trabalhadores da Educação do México, dialogaram por duas horas com mais de 500 educadores sobre “a catástrofe que o governo neoliberal vem implementando” em seu país. Integram o festival de atrocidades os 43 estudantes desaparecidos em Guerrero em 2014, e os 12 manifestantes mortos e mais de 150 feridos recentemente pela polícia em “confronto” com os professores de Oaxaca.

Professora doutora Gabriela Vasquez. Foto: Lidyane Ponciano
“O governo desatou uma guerra contra o povo mexicano, que se mobiliza em defesa da educação pública e diz não às reformas neoliberais”, afirmou Gabriela, frisando que estas se concretizaram a partir de 2013 com “mudanças na Constituição que trouxeram modificações na legislação”. “A mal chamada reforma da educação, por exemplo, abre a porta à privatização buscando destruir a organização do magistério a fim de acabar com o processo de desenvolvimento crítico”, ressaltou. De acordo com a professora, o ideário neoliberal tenta marcar os estudantes com “rótulos de controle de qualidade, da mesma forma que numa cadeia de produção de mercadorias, aviltando o processo de ensino-aprendizagem”.
Ao mesmo tempo em que reduz os investimentos na educação e inviabiliza a formação pedagógica dos educadores, alertou Gabriela, o governo “desata uma intensa campanha midiática dizendo que é o professorado o responsável pelos déficits no ensino”. “Buscam desprofissionalizar a categoria – com o fim das escolas normais que por 128 anos foram as formadoras do magistério nacional – e a imposição de métodos de vigiar e castigar”, frisou. Entre outros absurdos, “a nova lei atenta contra a estabilidade ao estabelecer como obrigatória uma avaliação a cada quatro anos, independente dos estudos que os professores tenham feito e do reconhecimento de sua trajetória. “A permanência passa a depender do resultado de uma avaliação em que de 30 a 40% das questões nada falam de didática, mas dos dispositivos coercitivos e das ameaças da própria lei. Com a demissão de quase cinco mil professores que não se apresentaram ao exame e dos 15% que foram qualificados como insuficientes, a luta passou a ser massiva e ganhou um caráter nacional. Nos estados de Oaxaca, Chiapas, Guerrero e Michoacan o governo sequer conseguiu realizar os exames, apesar das perseguições e da forte presença da polícia em todas e cada uma das escolas”, relatou.

CRIME SEM CASTIGO

José Antônio Altamirano Ojida recordou da ação coordenada entre as polícias federal e estadual junto a matadores da região, que resultou no “assassinato vil de 12 pessoas, o desaparecimento e a prisão de manifestantes numa repressão que deixou mais de 150 feridos em Oaxaca, e que se configura num crime de lesa-pátria”. Neste momento, destacou, ‘”temos no país mais de 500 presos políticos”.
A greve nacional do magistério Iniciada no dia 15 de maio, com manifestações diárias nos 32 estados do país como o bloqueio de rodovias, declarou o dirigente da Coordenação Nacional dos Trabalhadores da Educação do México, representa uma “resistência organizada, uma ação de desobediência civil pacífica frente a um governo que se submete a leis impostas pelo imperialismo por meio dos organismos internacionais”. “A única forma de se enfrentar o neoliberalismo é sair às ruas, mobilizando todos os atores possíveis em defesa de uma educação humanista e integral, que substitua os valores do mercado pelos da solidariedade, da democracia e da ajuda mútua, como nos ensinaram nossos ancestrais”, disse. As atividades sindicais mesclam ações pedagógicas, jurídicas, políticas e organizativas, buscando denunciar e isolar a barbárie governamental.
Conforme Ojida, “o protesto está criminalizado no México: é um governo fascista, de repressão a ferro e fogo aos movimentos que lutam por melhores condições de vida, de trabalho e de estudo para todo nosso povo”. O sindicalista agradeceu a solidariedade manifestada “contra o regime de terror” e exortou a todos os presentes a reafirmarem todos os dias a máxima dos companheiros espanhóis: “se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”.

O encontro também contou com a participação de lideranças do magistério da Argentina, Paraguai e Honduras, do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), da CUT-MG e da Internacional da Educação (IE).

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