“Impelir a mudança na Colômbia permite à sociedade fluir pacificamente para as transformações, mas impedir a mudança é colocar a sociedade em uma panela de pressão”, disse Petro

VANESSA MARTINA SILVA/ COMUNICASUL

Direto de Bogotá

A declaração do ex-candidato à presidência da Colômbia Alejandro Gavíria mexeu com o tabuleiro político a 10 dias das eleições históricas que serão realizadas no país.

Em artigo publicado no jornal inglês The Financial Times, o ex-ministro da Saúde do governo de Juan Manuel Santos (entre 2012 e 2018) declarou apoio — ainda que não explicitamente — ao candidato de esquerda Gustavo Petro, do Pacto Histórico.

Alejandro Gavíria, ex-reitor da Universidade dos Andes e foi pré-candidato pelo Centro Esperanza

“Estamos dormindo sobre um vulcão (…) pode ser melhor ter uma explosão controlada com Petro do que “engarrafar” o vulcão”, escreveu, para logo concluir: “o país exige uma mudança”.

Gavíria é ex-reitor da Universidade dos Andes e foi pré-candidato pelo Centro Esperanza às eleições deste ano, mas foi derrotado por Sergio Fajardo.

O tema tomou conta das redes sociais nesta quinta-feira (19) e provocou reação de todos os setores políticos.

Após a ampla repercussão do caso, Gavíria fez um pronunciamento dizendo que seu apoio segue sendo a Sergio Fajardo, porém, o abalo político já estava feito. 

Repercussão da direita à esquerda

O nível dos ataques feitos a Gaviria e repercutidos pelos meios de comunicação colombianos dão a dimensão do impacto da declaração, que tensionou ainda mais a direita no país.

Jorge Enrique Robledo, do Centro Esperanza, partiu para ataques pessoais, dizendo que Gaviria “sempre foi uma pessoa ruim”. “Má pessoa como ministro de Saúde e má pessoa na Coalizão Centro Esperanza”.

Ocorre que o candidato de centro “derreteu”. Sergio Fajardo hoje conta com apenas 5,10% das intenções de voto e já não há nenhuma esperança de que possa estar em um eventual segundo turno com Petro.

À extrema-direita do espectro político, a declaração também foi sentida. O ex-presidente Álvaro Uribe (2002 – 2010) escreveu em seu Twitter: “atenção, já vivemos uma ‘explosão controlada’ quando Santos interviu nas empresas SaludCoop, Café Salud e Caprecom”.

Uribe se refere ao ex-presidente Juan Manuel Santos, que chegou ao poder apoiado por ele mesmo, foi seu ministro da Defesa, mas rompeu com o uribismo ao negociar um acordo de paz com a então guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Atualmente, Uribe é investigado por supostos vínculos com a milícia (paramilitares) colombianos, responsáveis pelos casos de “falsos positivos” — ato de marcar cidadãos comuns, civis, como guerrilheiros para obter vantagem pessoal.

Pacto Histórico

Já à esquerda, as manifestações do Pacto Histórico foram comedidas.

O senador Roy Barreras disse que Gaviria é um “intelectual liberal, transparente e honesto” e destacou que ele “conseguiu entender a força da explosão social”.

Petro, por sua vez, remarcou que a declaração não representa necessariamente um declaração de voto. “Li a frase que ele escreveu em inglês, que eu acho que é profundamente precisa. Ele não está dizendo que vai votar em mim, ele está dizendo que é melhor controlar, de certa forma, uma explosão social que engarrafá-la, pois ao engarrafá-la multiplica-se por dez. Impelir a mudança na Colômbia permite à sociedade fluir pacificamente para as transformações, mas impedir a mudança na Colômbia é colocar a sociedade em uma panela de pressão que pode explodir a qualquer momento”, ressaltou, classificando as palavras do ex-ministro como “profundas”.

Em um post em seu Twitter, Petro disse que Gavíria foi o candidato mais preparado que encontrou nos debates. Sua saída fez com que os mesmos “perdessem a graça”.

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