Cristina Kirchner, presidente do Partido Justicialista (NA)

“O que a Argentina vive hoje é mais antigo que o sol: é um modelo de valorização financeira”, denunciou a ex-presidente, frisando que Milei tem feito com que o “dinheiro não seja investido em bens e serviços, mas na especulação”. “Merecemos algo melhor”, enfatizou a ex-presidente ao assumir o comando do peronismo

A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, assumiu nesta quarta-feira (11) a liderança do Partido Justicialista (Peronista), denunciando o governo de “dolarização e motosserra de Javier Milei” por sabotar o desenvolvimento nacional, o emprego e a renda, e agir em defesa do capital especulativo e das transnacionais.

“O que a Argentina vive hoje é mais antigo que o sol: é um modelo de valorização do capital financeiro”, afirmou Cristina, frisando que “não existe modelo produtivo” no país, mas “de leilão dos nossos bens naturais”. O discurso “desconectado da realidade e repetitivo” realizado por Milei em cadeia nacional no dia anterior, reiterou a líder, demonstrou que “este governo não tem um modelo produtivo, mas de valorização financeira”.

No ato na Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET), Cristina condenou o fato da atual gestão viver em um mundo “Disney”, de fantasia, enquanto suas práticas, ideias e políticas não são novas, representam um ultrapassado modelo extrativista e de especulação. A realidade, assinalou, é que “desde julho há um déficit na conta corrente do Estado argentino”, a que se soma “um endividamento fenomenal de quase 100 bilhões de dólares a mais”. “Não, nós não merecemos isso, temos que trabalhar porque merecemos algo melhor”, enfatizou.

Para avançar, acredita Cristina, o peronismo tem que se fazer três perguntas: em primeiro lugar, devemos questionar “o que está acontecendo”, em segundo lugar, “por que” e, em terceiro lugar, “o que fazer”. A partir daí, sintetizou, precisará somar forças, consciente, para derrotar o retrocesso imposto.

ANTIPOPULAR AJUSTE FISCAL E ARROCHO SALARIAL

CFK condenou a dolarização em curso, que vem levado à quebradeira das empresas e ao crescimento vertiginoso da desindustrialização e do desemprego. “Na economia bimonetária, a inflação está atrelada à variação do câmbio e, quando sustentada artificialmente, gera, entre outras coisas, o fechamento de fábricas”, explicou. Conforme a líder oposicionista, desde que Milei assumiu houve o fechamento de 11 mil empresas – com até 50 empregados – 400 empresas que tinham entre 50 e 500 e 47 empresas com mais de 500 trabalhadores. “Esse é o cenário, além do ajuste fiscal contra os aposentados e do arrocho salarial”, esclareceu.

O Monitor de Indicadores Sociais reforça o alerta e aponta que em outubro as pensões e aposentadorias ficaram 11% abaixo do ano passado, que o salário real dos trabalhadores registrados caiu 6,8% e que, em termos reais, o salário mínimo ficou 28,4% abaixo do valor de novembro de 2023. Apenas nos nove primeiros meses de Milei, 195.570 trabalhadores registrados perderam seu emprego; 138.750 no setor privado, 43.781 no setor público e 13.004 em casas particulares. Segundo o Instituto de Estudos e Formação da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina (CTAA), “esta ferramenta opera com fontes oficiais pois extrai, processa e visualiza dados dos organismos do Estado Nacional”.

Para CFK, a vitória de Milei foi “um fracasso da política”, que ocorreu em um cenário em que ela não pôde liderar uma chapa devido à intensa perseguição midiática e judicial sofrida. “A permanente difamação da política gerou um clima antipolítica”, disse.

Saindo da política para o crime, Cristina citou o caso do senador Edgardo Kueider, detido recentemente ao tentar cruzar a fronteira do Paraguai com mais de 200 mil dólares em dinheiro. Ela destacou que este tipo de absurdos ocorre na história argentina quando há governos que propõem “leis contra pessoas e a nação”.
A comandante oposicionista apontou cinco tarefas que o peronismo deverá cumprir nos próximos anos: formar quadros, informar, planejar, divulgar e organizar. “O partido deve formar quadros políticos e técnicos. O técnico pode mostrar como se consegue algo, mas se o político não tiver uma interpretação correta do momento, não adianta muito”, explicou.
Sobre a última visita de Milei aos Estados Unidos e o Tratado de Livre Comércio (TLC) que o presidente deseja assinar com Trump, Cristina foi contundente na sua crítica de que não está fazendo uma boa leitura do cenário mundial. “Alguém deveria alertá-lo de que não somos complementares, mas concorrentes. Na sua admiração pelos Estados Unidos há admiração infantil, excessiva e ingênua”, concluiu.

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