1.200 servidores e 89 crianças encontravam-se no Ministério
Polícia de Chacao – município governado pela oposição – parou o trânsito para vândalos invadirem a instituição pública com pedras, paus e coquetéis molotov
Leonardo Wexell Severo
A sede do Ministério da Habitação da Venezuela foi invadida e incendiada na última terça-feira (2) por cerca de 30 encapuzados, durante manifestação contra o governo do presidente Nicolás Maduro. Armados com pedras, paus e coquetéis molotov, os marginais atearam fogo no edifício onde trabalham 1.200 servidores e abriga uma creche com 89 crianças de seis meses a três anos, que tiveram de ser socorridas por bombeiros do Distrito Capital e pela Guarda Nacional Bolivariana. Ações como estas ceifaram, até o momento, 39 vidas no país e levaram o governo bolivariano a alertar para a prisão dos governantes que respaldarem os criminosos em seus municípios.
“Corremos perigo e o risco de morrer carbonizados, o que demonstra o nível de loucura e de fascismo a que chegaram estes grupos”, assinalou o ministro Ricardo Molina, que denunciará o ato de vandalismo ao Ministério Público. A Polícia de Chacao – município governado pela oposição, em que está localizado o ministério – em vez de impedir a ação, denunciou Molina, “deteve o tráfico e logo entraram um grupo de terroristas, atentaram contra a fachada do edifício e rebentaram os vidros”. O ministro também condenou a ausência do prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, que foi chamado em várias oportunidades para atender a emergência, porém não respondeu.
Ações como estas já ceifaram dezenas de vidas no país
Conforme o ministro do Interior, Justiça e Paz, Miguel Rodríguez Torres, pelo menos 30 pessoas, entre elas um estrangeiro de origem libanesa, foram detidas em Chacao e no município de Baruta. Uma das manifestantes, Masiel Nataly Pacheco Miranda, portava três canos com pregos (usados como base para a fabricação de bombas caseiras), tonéis para combustível e até colete à prova de balas.
“Estes cidadãos tinham dentro do carro gases lacrimogêneos, visores noturnos, máscaras anti-gás, facas, uma arma Golck calibre 9 milímetros, entre outros apetrechos”, informou o ministro, ressaltando que o veículo possuía um compartimento para distribuir miguelitos (pequenos aparelhos metálicos para furar pneus) e tonéis de combustível, “uma modalidade terrorista que temos visto nos protestos”. “São mercenários, pagos para gerar violência e desestabilização”, acrescentou Miguel Torres, lembrando dos vínculos de muitos dos manifestantes com a OTPOR, organização financiada pelo governo dos Estados Unidos que treina jovens para que realizem “um espetáculo midiático a fim de ‘justificar’ a substituição ilegítima do governo”. Diante da gravidade das ações, assinalou o ministro, “estamos identificando os que colaboram com estas atividades nos municípios de Chacao (Miranda) e Maracaibo (Zulia); onde se reúnem para entregar o dinheiro e quem lhes entrega os pneus para queimar”.
Ação imediata dos bombeiros e da Guarda Nacional Bolivariana impediu catástrofe
Fazendo uma exortação à paz, mas sublinhando que o Estado agirá de forma firme para preservar a vida e a soberania do país, o presidente venezuelano reiterou que é inadmissível a continuidade das ações criminosas. Maduro lembrou a covardia dos que “atacaram fisicamente e danificaram a clínicas públicas de saúde, queimaram uma universidade pública no estado Táchira e lançaram coquetéis molotov e pedras em ônibus do transporte público com passageiros a bordo”. “Também atacaram as instituições públicas, atirando pedras e tochas nos escritórios do Tribunal Superior de Justiça, na empresa pública de telefonia CANTV e no escritório da Promotoria Geral”, condenou Maduro, lembrando que além da morte de dezenas de inocentes, “estas ações violentas causaram perdas de bilhões de dólares”.
Para o economista Pedro da Silva Barros, titular da missão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) na Venezuela, as lideranças da oposição mais agressiva a Maduro “não acreditam em um golpe tradicional no curto prazo”. “Apostam no desgaste constante ao qual episódios esporádicos de violência, com períodos de desestabilização pontuais, são fundamentais para a grande exposição midiática dentro e fora do país”, ressaltou Pedro, apontando o investimento destes setores em um “quadro de instabilidade sem colapso”. “É lamentável que para a manutenção da instabilidade há que se ter espaço para o radicalismo que se converteu em quase 40 mortes nos últimos 50 dias. É lamentável que destruam universidades e postos de saúde, que ateiem fogo em sedes de ministérios, que coloquem em risco parte dos grandes avanços sociais que a Venezuela alcançou nos últimos anos”, condenou.
Segundo as Nações Unidas, a Venezuela transformou-se de um dos países mais desiguais da América Latina em 1998, período anterior ao governo bolivariano de Hugo Chávez, para converter-se no menos desigual, com a pobreza extrema reduzida de 21,5% para 6,5%.