A discussão na Venezuela provocada por setores que não reconhecem o presidente eleito, Nicolás Maduro, está centrada no pedido de que os votos sejam recontados. No domingo (14), quando foi anunciada a margem de diferença de 265 mil votos entre Maduro e o candidato da oposição, Henrique Capriles, iniciaram-se questionamentos e atos de violência no país. O técnico eleitoral, Oscar Martínez, denunciou ao ComunicaSul que tem sofrido perseguições da direita.
Por Vanessa Silva, de Caracas
Oscar Martínez foi perseguido e teve que sair com mulher e filhos de sua casa em Caracas/ Foto: Vanessa Silva
|
Com o apertado do resultado, Capriles aproveitou para adotar o discurso de fraude. O técnico eleitoral pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), motorista e técnico superior em administração, Oscar Martínez, ressalta que “é impossível que tenha havido fraude. Os técnicos que trabalham nas auditorias são formados e muito bem preparados, são engenheiros, técnicos e sabem que isso é impossível”. Estes técnicos, segundo ele, “assinaram as auditorias e são os mesmos agora querem questioná-las”.
O que está em jogo na Venezuela não é a credibilidade do resultado e a pequena margem de diferença. Mesmo antes das eleições, Capriles deixou claro que questionaria o pleito. O CNE elaborou um pacto entre os candidatos que deveria ser assinado por todos os sete postulantes à presidência, em que eles reconheceriam qualquer que fosse o resultado das eleições. Nicolás Maduro o assinou. Capriles, não. Preferiu fazer seu próprio documento onde consta que aceitaria o resultado “que o povo escolhesse”, o que abre brechas para qualquer interpretação, uma vez que não menciona o CNE, a única autoridade competente para avalizar o que dizem as urnas.
Para Martínez, o que estão tentando “é criar um ambiente para reeditar o que acontecem em 11 de abril em Ponte Laguna”, quando foi dado um golpe contra o presidente Hugo Chávez. Inclusive, “criaram uma notícia falsa de o governo teria queimado os dados de votação, quando na verdade para fazer isso é preciso a participação de pelo menos três órgãos diferentes. Tudo leva a crer que este material é de 2009, não é novo”.
De acordo com o discurso adotado pelo comando de campanha Simón Bolívar – da direita – há mais de 3.200 denúncias de irregularidades do processo eleitoral. No entanto, não esclarecem que tipo de denúncias são estas. Martínez foi denunciado pelo mesmo grupo, por “deter a chave de ativação das urnas”. Isso foi constantemente explorado na televisão, nos jornais. No entanto, o próprio comando afirmou posteriormente que esta chave não tem capacidade de “alterar os dados das urnas, mudar a data de computação dos votos ou fraudar o sistema”. O técnico, que disse estar sendo perseguido após ter tido seus dados e conta do Twitter divulgados na internet, esclareceu que realmente a tal chave não altera nada e que técnicos da Mesa de União Democrática (MUD), partido do Capriles, também tinham acesso a tal mecanismo.
Duas faces
Enquanto Capriles esbraveja nas coletivas de imprensa, Maduro governa. Nesta terça-feira (16), inaugurou o Hospital Cipriano Castro, no estado Aragua. Apesar das diversas manifestações em favor da recontagem dos votos diante dos CNEs de diversos estados, convocadas pela direita, não houve registro de mais atos violentos.
Ao não aceitar o resultado das urnas, Capriles insta a população ao ódio. Até o momento, sete pessoas morreram no país e 63 foram feridas por conta de atos violentos praticados por seus partidários contra chavistas. Sedes do PSUV foram atacadas em três estados. Símbolos das conquistas chavistas, Centros Médicos de Diagnóstico Integral (CDI) – onde trabalham profissionais cubanos -, centros de urbanização da Gran Misión Vivienda e as sedes da TV estatal Venezolana de Televisión e da Telesur foram atacados por manifestantes.
Capriles cancelou a marcha prevista para esta quarta-feira (17), para evitar “um banho de sangue em Caracas” e os venezuelanos não querem confronto. Está viva na memória dos cidadãos a lembrança do que ocorreu com o golpe de 11 de abril de 2002 e ninguém quer reviver aqueles momentos, nem mesmo os partidários de Capriles: “temos que mobilizar pela paz. Somos socialistas e humanistas. O chamado que fazemos é à conciliação. Nossos filhos são chavistas, e os filhos deles serão chavistas também porque estamos fazendo a revolução”, defendeu Martínez.