Naledi Pandor, chanceler da África do Sul, na primeira Conferência Global Anti-Apartheid pela Palestina (Foto: Mishqa Rhoda)

Durante a Conferência Global Anti-Apartheid, em Joanesburgo, Naledi Pandor defendeu ação sul-africana contra Israel na Corte Internacional de Justiça e convocou ampla mobilização internacional em solidariedade ao povo palestino

FELIPE BIANCHI/ ComunicaSul e Barão de Itararé

Joanesburgo – África do Sul

Naledi Pandor, chanceler da África do Sul, participou nesta sexta-feira (10), em Joanesburgo, da primeira Conferência Global Anti-Apartheid pela Palestina. A representante do governo sul-africano fez uma defesa contundente de suas ações no âmbito do Direito internacional para responsabilizar Israel por crimes contra a humanidade praticados em Gaza.

“Nunca foi tão urgente que a comunidade intenacional se mobilize em um esforço coletivo para pressionar pelo fim imediato do genocídio em curso na Palestina e do sistema de apartheid imposto pelo Estado de Israel na região”, afirmou a ministra das Relações Exteriores e Cooperação. “As contínuas atrocidades cometidas por Israel exigem ampla mobilização de todas as forças progressistas do mundo pelo fim do colonialismo na Palestina”.

Figura histórica do Congresso Nacional Africano (ANC), partido político ao qual pertenceu o ex-presidente Nelson Mandela, Pandor explicou as razões de o país africano ter apelado à Corte Internacional de Justiça (CIJ) para que julgue Israel por violar a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948, assinada por ambas as nações.

Além do número vertiginoso de assassinatos (já são mais de 35 mil mortos desde outubro de 2023), a ação também caracteriza a situação como genocídio por práticas como a destruição de casas e a expulsão de palestinos de onde vivem; o bloqueio à comida, água e à assistência médica; a destruição dos serviços de saúde essenciais para a sorevivência de mulheres grávidas e de bebês recém-nascidos, entre outras barbaridades.

Falando em nome do governo sul-africano, Pandor explicou que é preciso aliar a denúncia das violações brutais dos direitos humanos à uma intensa campanha de solidariedade global: “Até agora, a abordagem tradicional à resolução de conflitos não conseguiu estabelecer a paz”, disse. “É fundamental que haja mobilização internacional para encontrarmos, juntos, caminhos para a justiça. As forças progressistas devem exigir que os direitos inalienáveis à autodeterminação e ao retorno sejam garantidos ao povo palestino”.

O objetivo, conforme explica, é a aplicação justa e igualitária do direito internacional. “Todos nós, como humanidade, deveríamos ter vergonha de não fazer nada diante de 35 mil assassinatos e mais ocorrendo neste exato momento”, sentenciou. “Se não conseguirmos encontrar um caminho, devemos considerar viajarmos para a Palestina e ser o muro de proteção da civilidade”.

Os laços entre África do Sul e Palestina

Remontando à luta contra o apartheid em seu país, a chanceler comentou a conexão histórica entre as nações: “Os povos da África do Sul e da Palestina cultivam um vínculo de solidariedade forjado pelas respectivas lutas de libertação de seus países. A África do Sul tem sido, desde o fim do apartheid, uma aliada da Palestina, apoiando-os em organismos internacionais e oferecendo assistência material quando possível”.

De acordo com Pandor, a luta da Palestina evoca memórias dos tempos de segregação racial e opressão brutal na África do Sul. “Experimentamos em primeira mão os efeitos dessa combinação e isso causa uma identificação total com a luta pela liberdade dos palestinos”, sublinhou.

“Nosso país e nosso povo têm demonstrado o seu compromisso com a questão Palestina antes mesmo de conquistarmos nossa democracia 30 anos atrás”, pontuou. “O próprio Mandela dizia: não seremos livres até que o povo palestino também o seja. É nosso dever desempenhar um papel ativo nesta busca por justiça”.

A realização da Conferência Global Antiapartheid pela Palestina em Joanesburgo, que ocorre entre 10 e 12 de maio, é reflexo dessa ligação. Organizado pela sociedade civil sul-africana, sem participação governamental, o evento reúne centenas de autoridades, intelectuais, líderes religiosos e ativistas para discutir estratégias de enfrentamento ao apartheid em curso contra o povo palestino.

“Como governo da África do Sul e representante do Congresso Nacional Africano (ANC), continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar a existência do povo palestino e acabar com o apartheid e o genocídio aos quais estão submetidos”, encerrou.

 

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