Em entrevista à Diálogos do Sul Global, Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo destacam importância do projeto audiovisual que vai percorrer 7 países da América Latina atingidos pela Operação Condor
Está em produção na América Latina a série de TV “Operação Condor”. Dirigido por Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo, o projeto vai expor os detalhes da ofensiva política, militar e empresarial que operou golpes e instaurou ditaduras em países latino-americanos na segunda metade do século 20, com o apoio dos Estados Unidos.
A criação acaba de receber o apoio da Comissão de Anistia do Brasil, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, e vai contar com sete episódios, cada um dedicado a expor os crimes da Operação Condor nos seguintes países:
- Chile: Pablo Neruda
- Brasil: Memória, Verdade e Justiça
- Argentina: Explosões de Automóveis
- Uruguai: Voos da Morte
- Paraguai: Ossadas de Desaparecidos
- Bolívia: Desaparecimentos Forçados
- Peru: Conexão Europa
“‘Operação Condor’ adquire relevância ainda mais significativa no contexto político latino-americano atual, especialmente diante do avanço da extrema-direita em vários países do mundo”, afirmam os diretores Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo em entrevista à Diálogos do Sul Global.
Frente ao retorno de Donald Trump à presidência dos EUA e a execução de uma política externa imperialista ainda mais agressiva, Cruz e Belluzzo destacam que o longa pretende ser mais que uma série histórica e vai ajudar a desconstruir as narrativas que buscam legitimar as políticas intervencionistas e repressivas estadunidenses:
A produção “não apenas denuncia as atrocidades do passado, mas também serve de alerta contra qualquer tentativa de reverter os avanços democráticos conquistados com tanto custo pela região”, dizem. E acrescentam: “Se torna uma ferramenta vital para relembrar as cicatrizes do passado, para resistir às tendências autoritárias presentes no cenário atual e para fortalecer a luta contínua pela democracia na América Latina”.
APOIO NO BRASIL E NO EXTERIOR
Além da Comissão de Anistia do Brasil, a série “Operação Condor” tem recebido a adesão de diferentes entidades nacionais — como a Cátedra UNESCO/UNICAP de Direitos Humanos Dom Helder Câmara, o Instituto Zuzu Angel e o Fórum Nacional de Educação e internacionais — e internacionais — incluindo o Parlamento do Mercosul, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA e o Museu de Memória e Direitos Humanos do Chile.
“Esses apoios são fundamentais para garantir visibilidade e legitimar o projeto em uma escala global”, observa Cleonildo Cruz, ao comentar a importância do fomento à série num contexto em que produções de extrema-direita contam com amplo aporte financeiro — habitualmente se prestando a deturpar episódios históricos e defender regimes ditatoriais.
A obra “se distingue não apenas pela sua temática histórica, mas também pelo apoio significativo que tem recebido, o que garante uma base sólida para enfrentar esses obstáculos”, explica Cruz. “É um passo importante na luta pela verdade e justiça, essenciais para a manutenção da democracia”, acrescenta.
FILMAGENS EM 7 PAÍSES DA AMÉRICA LATINA
Para produzir a série “Operação Condor”, Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo vão realizar filmagens em cada um dos sete países retratados nos episódios, a partir do próximo mês, sendo: Uruguai, março; Brasil, abril; Paraguai, maio; Argentina, junho; Chile, julho; Peru, agosto; e Bolívia, setembro.
A proposta é reconstituir de modo fiel e impactante os horrores da intervenção criminosa, que teve não apenas respaldo logístico e financeiro dos EUA, mas conexões com a Europa, submetendo a América Latina a um período sombrio marcado por violações aos direitos humanos e uma brutal repressão.
“O cronograma de produção da série de TV “Operação Condor” está bem estruturado”, conta Cleonildo Cruz. O cineasta explica que a equipe estará em processo contínuo de produção para que, a cada episódio, a edição seja feita logo após as filmagens. Assim, toda a série estará pronta para exibição em março de 2026.
“Isso nos permite manter o cronograma sem comprometer a qualidade da série, assegurando que cada episódio tenha a atenção necessária para refletir com precisão os eventos históricos que estamos retratando”, finaliza.
GUILHERME RIBEIRO/ Diálogos do Sul Global