Monopólios de comunicação servis a Washington ocultam responsabilidade do Estado na crise econômica e social, agravada por Lasso
LEONARDO WEXELL SEVERO/ HORA DO POVO
Desde o mecanismo da “Morte cruzada” utilizado pelo banqueiro Guillermo Lasso para dar uma sobrevida de alguns meses ao seu desgoverno, dissolver a Assembleia Nacional e chamar novas eleições presidenciais, a mídia equatoriana tem buscado monopolizar jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão com tiroteios, torturas e cadáveres.
O objetivo é claro: desfazer do processo eleitoral convocado na marra para o próximo 20 de agosto, reduzindo o tema da insegurança a um jogo de polícia e ladrão, como se a gestão pública nada tivesse a ver com a violência ter multiplicado as mortes por cinco nos últimos seis anos.
Os próprios dados oficiais dão a dimensão do descalabro social que se vê mergulhada a nação andina, que fechou 2022 com 4.823 homicídios intencionais, taxa superior a 25 por cada 100 mil habitantes, a mais alta da sua história. E como o descalabro prossegue, crescem as trágicas estimativas. A expectativa é de que este número alcance a 40 assassinatos por cada 100 mil pessoas neste ano. O recorde dos recordes no pequeno país.
Ao mesmo tempo, de forma banal, os conglomerados midiáticos, alinhados com a cantilena neoliberal e neocolonial de privatização, arrocho e desemprego, tenta minimizar tiros e bombas à ação das gangues e do narcotráfico que tomam conta das ruas e das próprias penitenciárias. Donos do cifrão da verdade, omitem olimpicamente sua responsabilidade, secundarizando o debate sobre o papel do Estado na economia, na geração de emprego e renda, na garantia de direitos sociais e trabalhistas, e na qualificação e eficiência da própria estrutura da segurança pública.
As manchetes e holofotes vertem sangue e falam por si. “De um triciclo jogaram três cadáveres nus no bloco 17 da Flor de Bastión” estampou o El Universo em manchete terça-feira (1). “Os corpos, de dois homens e uma mulher, estavam amarrados e com sinais de tortura em uma rua de terra”, onde se ouviram “ao menos dez tiros neste bairro de Guaiaquil”, acrescentou.
No centro desta cidade portuária de cerca de 2,7 milhões de habitantes (Quito, a capital, tem dois milhões), havia sido registrado dois dias antes “um ataque armado que provocou a morte de duas pessoas nas proximidades do Malecón 2000”. Isso tudo registrou o Vistazo, “durante o tempo em que cidadãos ainda caminhavam pela zona turística e comercial”. Os inúmeros disparos foram difundidos com estardalhaço pelas redes sociais.
Na semana anterior, o assassinato do prefeito de Manta, Agustín Intriago, de 38 anos, com tiros de fuzil a poucos metros de distância comoveu o país. Como expressão do desespero, se espraia a greve de fome nas penitenciárias diante da crise carcerária em que se acumulam mais de 500 presos assassinados. Completamente rendido à lógica excludente do patrão do Norte, Lasso convoca o toque de recolher e estados de exceção em províncias. Um verdadeiro caos.
Com o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) exilado na Bélgica por perseguição política, a ex-deputada e advogada Luisa González, sua candidata, e do movimento Revolução Cidadã, ocupa a dianteira em todas as pesquisas à chefia de governo. “Lutamos pelos direitos de todos, aspiramos a uma sociedade menos injusta, com igualdade de oportunidades e livre de violência”, defende, elevando o tom em defesa do patrimônio público, da geração de empregos e da garantia de direitos.
Mas para vencer no primeiro turno, esta organização progressista, que tem o jovem economista Andrés Arauz como candidato à vice-presidente, precisa de pelo menos 40% dos votos com uma vantagem de 10% sobre o segundo colocado. Desta forma evitaria o segundo turno, em 15 de outubro, e governaria com um mandato-tampão até maio de 2025.
O compromisso, esclareceu Arauz, “é vencer os interesses hegemônicos e os traidores, servis ao estrangeiro”. Para isso, em vez de cortar serviços, como fez o governo, “é necessário libertar o país do fracassado modelo econômico do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do rentismo financeiro, impulsionando uma entusiástica política de investimentos públicos para recuperar a economia”.
LASSO E SEUS CORINGAS
Candidato ao segundo lugar – e de olho na vaga rumo ao segundo turno -, o empresário Otto Sonnenholzner, líder da Associação Equatoriana de Radiodifusores (AER) na província de Guayas, foi vice-presidente do traíra L. Moreno em dezembro de 2018. Durante 12 anos foi condutor de um programa de entrevistas e gerente geral do rádio Tropicana de Guaiaquil.
Outro profissional da injúria e da calúnia contra as forças progressistas, Fernando Villavicencio é um comunicador antissocial que tem nos seus afagos a Washington denunciar Julian Assange – protegido durante o governo de Correa na Embaixada do Equador na Inglaterra – por um suposto “gasto especial em Londres”.
Também no páreo rumo ao segundo posto, como já esteve anteriormente nas eleições presidenciais de 2021 em que chegou em terceiro, Yaku Pérez se faz de esquerda e indígena, mas na verdade – como já alertou Rafael Correa – “não passa de uma invenção da embaixada dos Estados Unidos”.
MANUTENÇÃO DO MODELO PRIMÁRIO-EXPORTADOR
Enquanto isso, a missão público-privada que esteve recentemente em Washington, conseguiu mais apoio para a aprovação da Lei de “Inovação e Desenvolvimento” do Equador (IDEA), com exportação tarifária zero desde que submisso ao modelo agrário-exportador. Cinicamente, os estadunidenses justificaram a concessão como Recuperação Econômica da Bacia do Caribe.
Para o Equador, a aprovação da Lei IDEA significaria que Washington concederia preferências tarifárias para 56% dos produtos exportados aos EUA. Uma verdadeira beleza como podemos ver: o brócolis deixaria de pagar 14,9% de imposto, o atum 12,5%, ou as rosas, que têm taxa de 8%. Como apenas 0,2% das importações dos gringos vêm do Equador, abriria um verdadeiro “mercado de oportunidades”. Nada mais enganoso.
Fechando o circo de horrores, para barrar o retorno do correísmo ao poder, somam-se à mídia venal campanhas pagas desde outros países com contas e informações falsas que, utilizando-se da Inteligência Artificial (IA), buscam influir na campanha eleitoral da forma mais desavergonhada. É a hora do tudo ou nada.