Nora Cortiñas, a “mãe de todas as batalhas”, como declara em sua homenagem o jornal Página 12

A ativista se destacou na luta pelo direito dos familiares dos desaparecidos argentinos à memória, à verdade e à justiça, deixa sua marca no exercício da coragem e perseverança

Fundadora das “Mães da Praça de Maio”, Nora Cortiñas partiu nesta quinta-feira (30) aos 94 anos deixando sua marca de paixão e compromisso com a democracia em seu país desde aquele maio de de 1977, quando na Praça de Maio, no centro de Buenos Aires, começou o bom combate pela memória, verdade e justiça reivindicando informações sobre o filho Carlos Gustavo Cortiñas, peronista e admirador de Evita, sequestrado ao sair para o trabalho.

De projeção internacional, sua convicção foi sentida nos cinco continentes por onde passou afirmando a luta contra o obscurantismo, o neoliberalismo e o neocolonialismo.

Nora foi capaz de alertar para as mentiras do regime ditatorial e expor o silêncio de sua mídia, ao abraçar outras mães e avós. Convertidas em coletivo, transformaram-se nas “Loucas da Praça de Maio”, como passaram a ser designadas por não se dobrarem à repressão e ampliarem suas vozes na presença constante e inabalável.

EXEMPLO DE TENACIDADE E COMPROMISSO

Eram anos sombrios, em que a ditadura executava milhares de jovens oponentes, muitos lançados vivos do alto de aviões sobre o Rio da Prata. Mas suas mães seguiam em frente. Souberam que filhas haviam sido capturadas grávidas. E que eram muitas, centenas, as crianças a serem resgatadas daquela noite macabra, vivendo com as famílias dos mesmos trogloditas responsáveis por tamanha dor.

Nora Cortiñas, com Leonardo Severo, do HP e da ComunicaSul, prestando solidariedade aos camponeses de Curuguaty, no Paraguai

Assim, graças ao seu empenho, nos últimos 46 anos foram identificados – e resgatados – mais de 130 netos nascidos em cativeiro. E que havia muitos militares a serem julgados pelas 30 mil mortes e desaparecimentos, além das inumeráveis e execráveis torturas. E centenas destes genocidas somente foram condenados devido à sua pressão e mobilização, nacional e internacional.

BATALHADORA AO LADO DO POVO PALESTINO

Amigas de Fidel Castro, batalhadoras ao lado do povo palestino contra o terrorismo de Estado israelense, presentes ao lado do Iraque em oposição ao bombardeio de Bush, somando forças com os camponeses paraguaios de Curuguaty e, mais recentemente, somando com os trabalhadores e o povo argentino contra Javier Milei, estas seguem sendo as Mães e Avós da Praça de Maio. Esta é Nora, que nos ilumina com seu exemplo, a Argentina que conseguirá mais uma vez triunfar sobre o fascismo.

Na nota de falecimento, sua família deixou o comunicado que agradece a homenagem diante da “Nora eterna”, como ficou explicitado num dos inúmeros cartazes de despedida. “Profundamente preocupada nestes tempos pela grave situação que atravessa nosso país e sempre disposta a estar presente onde quer que houvesse injustiça, Norita lutou até o último momento pela construção de uma sociedade mais justa. Estamos orgulhosos de ter compartilhado sua vida, sua marca e seus ensinamentos que deixarão um registro indelével em sua família e na sociedade”, concluem.

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