Diretor do diário El Telégrafo, o “decano da imprensa nacional”, Orlando Pérez fala sobre a comunicação pública e a Revolução Cidadã no Equador.
Felipe Bianchi, Leonardo Severo e Caio Teixeira, direto de Quito-Equador.
Considerado o “decano da imprensa nacional”, o diário El Telégrafo é o único do Equador a circular pelas 24 províncias do país. Além disso, o periódico tem uma característica singular em relação aos outros grandes jornais nacionais: é um meio de comunicação público. O diretor Orlando Pérez recebeu o ComunicaSul na sede do veículo – o Edifício de los Medios Públicos –, em Quito, neste dia 16 de fevereiro, data em que o jornal completa 129 anos. Além do processo conhecido como Revolução Cidadã, Pérez abordou a política, a comunicação equatoriana e a própria prática jornalística na atualidade.
Em relação aos profundos avanços sociais e econômicos promovidos pelo governo nos últimos seis anos, Pérez afirma que, se não fosse por Rafael Correa, o periódico provavelmente não existiria mais. “O Telégrafo morrerá se a direita triunfar, pois não os interessa o público, só o privado. Não os interessa o humano, só o capital”, dispara. Enquanto a mídia comercial faz o jogo dos setores conservadores, diz Pérez, o Telégrafo se empenha em fazer um jornalismo “criativo, inteligente, crítico e autocrítico”.
Orlando Pérez recebeu o ComunicaSul na sede de El Telégrafo, em Quito. |
Com essa filosofia, o jornal foi nomeado um dos oito melhores diários impressos da América Latina em 2012 (prêmio dado pelo instituto alemão WAN-IFRA). Pérez destaca que, além do rigor jornalístico, a ideia é alcançar a excelência também nos aspectos gráficos e estéticos. Quanto ao conteúdo, ele afirma o compromisso de ir além dos padrões impostos pelos grandes meios privados. “Não podemos competir usando o mesmo modelo que eles, afinal, que jornalismo queremos?”, questiona. “Somos um veículo público e não faz sentido falarmos de economia usando parâmetros apenas dos grandes bancos e instituições financeiras; não podemos de falar de cultura apenas em um sentido mercadológico”.
Bastante crítico em relação ao ensino da profissão, Pérez aponta que praticamente nenhum curso de Jornalismo investe no campo da comunicação pública ou do jornalismo voltado aos movimentos sociais. “O ensino está muito mercantilizado e creio que isso acontece não apenas no Equador. Para os jornalistas do Telégrafo, só o que eu peço é que pensem, já que é isso que um jornalista deve fazer. E me parece que é isso que os cursos e as grandes empresas não permitem”.
EL TELÉGRAFO CUMPRE PAPEL DE DENÚNCIA
Um importante papel desempenhado pelo Telégrafo, segundo o diretor Orlando Pérez, é o de denúncia das condições trabalhistas no meio jornalístico. Muitos dos grandes jornais pagavam salários irrisórios, atrasavam os vencimentos e, muitas vezes, “até pagavam com cerveja ou outras coisas”. Ele se orgulha em contar que o Ministério de Relações Trabalhistas investigou diversas denúncias publicadas pelo Telégrafo, “um veículo que respeita o direito de seus trabalhadores”.
Ainda sobre o papel do jornal, o veículo público também arca com suas funções sociais, avalia Pérez. “Todo dia, na coluna ‘Sociedade’, repercutimos as demandas e as manifestações dos movimentos populares, independentemente se vai agradar ou desagradar o governo” (Nota: enquanto fala, mostra a coluna do dia 16, com a manchete “Marchas e bailes para demandar respeito à vida das mulheres”).
REVOLUÇÃO CIDADÃ E A MÍDIA
Pérez aprova a postura do governo em relação à comunicação e à necessidade de enfrentar os impérios midiáticos do país. “Correa é um especialista em pedagogia política dos meios de comunicação, quando se trata de explicar ao povo o que são, como funcionam e para que servem”, diz. Ele ressalta que “o presidente nunca sentou para jantar com os proprietários da grande mídia, nem sequer os atende pelo telefone”.
Em contrapartida, conta Pérez, todo sábado, durante o ano inteiro, o presidente visita um pequeno ou médio veículo popular para conhecê-lo, participar de suas programação e alavancar sua audiência. Após a visita, Correa fala diretamente ao povo pelos canais públicos.
Como projeto, Pérez, que também foi secretário de Comunicação da Assembleia Constituinte equatoriana, em 2007, e secretário de Comunicação da Assembleia Nacional, afirma que o Telégrafo pretende construir uma rede de veículos latino-americanos para fortalecerem o processo de integração continental. “A ideia é participarmos coletivamente deste complexo processo, produzindo e compartilhando informação. Estamos programando, para março, visitas a diversos países para tratarmos desta ideia. O ComunicaSul já está convidado para somar-se à iniciativa”, diz.
Acompanhe a cobertura completa das eleições equatorianas no sítio do Coletivo ComunicaSul: http://www.comunicasul.blogspot.com