Pequenos agricultores tomam o centro de Assunção
“Horacio, Horacio, fora do Palácio”, entoaram milhares de manifestantes acampados em frente ao Congresso Nacional do Paraguai exigindo medidas de apoio à agricultura camponesa, familiar e indígena, e o fim do privilégio dado aos bancos e ao agronegócio.

Leonardo Wexell Severo, de Assunção

Vindos de todas as regiões do país, concentrados embaixo de lonas com que enfrentam o calor escaldante da capital paraguaia, eles mantêm cercado a quase duas semanas o Palácio de governo exigindo o perdão das dívidas, a modificação da lei das cooperativas e a legalização dos assentamentos, completamente paralisada pelo presidente Horacio Cartes.
Membro da coordenação intersetorial que dirige os protestos, Élvio Benitez denuncia que “Cartes age como um idiota útil”. “Seu governo atua para fortalecer os banqueiros e grandes empresas estrangeiras como Monsanto e Cargill, transnacionais que contaminam o solo e deixam os camponeses atolados em dívidas”. Élvio frisou que “o povo tem o direito constitucional de levantar-se para fazer com que as instituições do Estado funcionem. Lutamos para que trabalhem em função do interesse comum e não de alguns poucos privilegiados como faz esta política mafiosa”, sublinhou.
Declarações de representantes do governo jogaram ainda mais gasolina no incêndio que se alastra do campo para a cidade. Cartes disse que os agricultores são “sem-vergonhas, oportunistas e folgados, que não gostam do trabalho”. Condenou os manifestantes por buscarem subsídio. Mas o fato é que enquanto o governo repassou recentemente a meia dúzia de empresários do setor de transporte US$ 25 milhões, o movimento reivindica US$ 150 milhões para 70 mil agricultores.
O ministro da Agricultura, Francisco de Vargas, foi além, ameaçando abertamente a segurança e a própria vida dos agricultores, alegando que estavam “buscando o caos” tentando “provocar um novo Curuguaty”. Em Marina Kue, Curuguaty, no dia 15 de junho de 2012, morreram 17 pessoas – 11 sem-terra e seis policiais – após um “confronto” encomendado para tirar o presidente Fernando Lugo. O julgamento, que ainda está em curso, tenta condenar camponeses sobreviventes a até 30 anos de prisão, enquanto nenhum dos 324 policiais envolvidos, nem seus superiores, estão sentados no banco dos réus.
Conforme Ernesto Benítez, da didiid, “a taxa de juros cobrada pelos bancos é altíssima, o que inviabiliza o pagamento para obrigar o pequeno agricultor a entregar a sua terrinha e as poucas cabeças de gado que eventualmente tenha”. “Dos cerca de 40 milhões de hectares do país, temos apenas dois milhões nas mãos de pequenos agricultores cujas propriedades variam de um a 20 hectares. É isso o que o grande capital quer para vitaminar o agronegócio, voltado para a exportação. O Paraguai alimenta hoje 80 milhões de pessoas no mundo, enquanto nosso povo sofre com o alto preço dos alimentos e a expulsão de centenas de milhares de famílias do campo”, concluiu Ernesto.

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