Sixto, da Comissão de Reforma Agrária do Senado do Paraguai |
Afirmou o senador Sixto Pereira (Frente Guaçu), defendendo a libertação dos camponeses e a posição dos juízes Arnaldo Prieto e Emiliano Rolón
LEONARDO WEXELL SEVERO, DE ASSUNÇÃO
“A decisão da Suprema Corte do Paraguai pela libertação dos camponeses de Curuguaty precisa ser respeitada. A conclusão dos juízes Arnaldo Prieto e Emiliano Rolón, que atuaram como ministros da Corte, é que o processo foi viciado e que, passados seis anos, não apareceram provas para manter presos os trabalhadores rurais”, afirmou o senador Sixto Pereira, membro da Comissão de Reforma Agrária, em entrevista exclusiva ao jornal Hora do Povo.
Na avaliação do senador da Frente Guaçu, “a perseguição da Procuradoria Geral do Estado aos dois juízes é uma afronta à independência do judiciário”. “Precisamos estar vigilantes contra esta ameaça, para que os dois não sejam penalizados pelo Jurado de Julgamento de Magistrados (JEM), como quer a Procuradoria”. Entre as muitas aberrações do processo, ressaltou, “logo depois do massacre a caixa preta com a filmagem do helicóptero militar simplesmente desapareceu, ela nunca foi encontrada”.
De acordo com Sixto Pereira,o massacre ocorrido no assentamento de Marina Kue, em Curuguaty, no dia 15 de junho de 2012 tinha um endereço certo: a derrubada do presidente Fernando Lugo, o que acabou ocorrendo uma semana depois, no dia 22. “Por isso se armou um teatro de guerra: para justificar o julgamento político de Lugo, que vinha realizando um governo que começou a tentar regulamentar a questão da terra, fazer o ordenamento jurídico”. “No nosso governo começamos a tentar ter estruturas estatais para controlar a utilização de agrotóxicos e não liberamos transgênicos”, declarou o senador, acrescentando que se iniciou a debater a evasão fiscal que compromete a arrecadação do Estado.
Recebendo de Leonardo Severo seus dois livros sobre Curuguaty |
Sixto Pereira alertou que “como problema fundiário, Curuguaty é ínfimo, mas é significativo pois diz respeito à apropriação ilegal de uma terra pública por parte de um grande empresário”. Entre outros desdobramentos, exemplificou, “é um caso que traz à tona o debate sobre o monocultivo da soja, o problema da concentração e desnacionalização de terras, da contaminação e da violência agrária”.
Da operação em Curuguaty, na qual 324 policiais cercaram 60 camponeses, lembrou o senador, “participaram membros das forças de segurança interna, todas elas treinadas pelos norte-americanos na Escola das Américas no Panamá e na Colômbia”. A denúncia feita por movimentos sociais e organizações de direitos humanos é que foram franco-atiradores, treinados por militares estadunidenses, quem provocaram a carnificina em que morreram 11 agricultores e seis policiais. “Com exceção do nosso governo, sempre houve uma formação política, militar e técnica por parte dos Estados Unidos. Um adestramento”, condenou.
O senador lembrou que “desde a época da ditadura de Alfredo Stroessner (1964-1989) sempre foi uma prática corriqueira a repartição de terras de fronteira para estrangeiros ou empresas multinacionais, principalmente de capital norte-americano, que controlam cerca de 70% da economia paraguaia. Foi algo que se usou para sustentar a ditadura, que se perpetuou e precisa ser enfrentado”. Para Sixto Pereira, “defender os juízes é defender os direitos humanos contra a voracidade do grande capital”.