“Os resultados das eleições legislativas do último domingo antecipam o que a extrema-direita está tramando em termos de fraude contra a campanha de Gustavo Petro à presidência”, afirmou Francisco Maltés, presidente da CUT-Colômbia
“Estamos denunciando que aproximadamente 30 mil mesas eleitorais, cerca de 500 mil votos teriam desaparecido das urnas, o equivalente a três ou quatro senadores oposicionistas a mais. Significa que o Pacto Histórico de Gustavo Petro pode aumentar de 16 para 20 senadores e tornar-se com folga a maior bancada. Os resultados das eleições legislativas do último domingo antecipam o que a extrema-direita está tramando em termos de fraude contra a campanha de Petro à presidência”.
A afirmação é de Francisco Maltés Tello, presidente da CUT-Colômbia, defendendo que a militância oposicionista amplie a mobilização e a pressão para “assegurar a consolidação da democracia no país, ameaçada pela oligarquia vende-pátria”.
“O Pacto Histórico e a Coalizão da Esperança definiram que em cada mesa deveria haver um militante para fiscalizar e registrar o resultado eleitoral. Isso porque há uma frase célebre de um homem de esquerda, socialista, Jorge Eliécer Gaitán, assassinado em abril de 1948, que dizia: de oito a quatro vota o povo e de quatro em diante o cartório eleitoral”, ironizou.
De acordo com o escrutínio oficial de 97% divulgado pelo Registro Nacional do Estado Civil, a coligação do Pacto Histórico já na sexta-feira obtinha 2.692.999 votos para o Senado, 390.152 a mais do que o informado na apuração. A existência de 29 mil mesas sem que houvesse sido registrado um único voto, cerca de 25% do eleitorado, era algo impossível de acreditar. Como na Colômbia o voto não é eletrônico, a frente oposicionista crê que foi essencial a fiscalização de mais de 67 mil testemunhas eleitorais e o acompanhamento de observadores internacionais. Foi isso o que fez com que a contagem de votos fosse refeita, e os problemas em vias de saneamento.
O líder sindical ressaltou que a petição feita pelos oposicionistas foi de que “o software fosse fiscalizado, uma vez que as máquinas são feitas por homens”. “O fato deles terem se negado a abrir a fiscalização do software no Tribunal Eleitoral gera ainda mais dúvidas sobre termos tido um processo fraudado”, acrescentou.
Conforme Maltés, “há uma grande expectativa entre os colombianos, porque se somarmos todos os votos do eleitorado não alcançam o de Petro”. Além da enorme indignação popular, frisou, “os eleitores que se encontram indecisos começam a entrar no trem da vitória”.
Diante da radicalização da situação econômica, ponderou o veterano combatente, “o agravamento da fome e o problema meio ambiental apontam para a necessidade de uma resposta mais rápida, que defina a eleição presidencial já no primeiro turno”.
DERRAME DE MENTIRAS
Por conta do desespero nas campanhas, “a direita e a extrema-direita tentam tirar a possibilidade de vitória de Petro por meio do derrame de notícias falsas”. “Estão usando nesta semana as redes sociais para divulgar uma quantia imensa de mentiras, como a de que Petro quer terminar com as aposentadorias. E é tal e tamanha a intensidade que acaba gerando pânico. Isso para dar o exemplo do fake que necessitamos enfrentar nesta semana”, acrescentou.
“Daí a importância de um jornalismo que mostre a cara, que traga a verdade verdadeira, a que não é a do oficialismo. Da parte sindical dos trabalhadores, desde a semana passada estamos investindo em um programa de duas horas diárias a fim de que as pessoas tenham acesso à opinião que é escondida ou distorcida em favor dos interesses do grande capital do país e do estrangeiro”, explicou.
Para Maltés, “a Colômbia se encontra em um processo muito forte de ebulição”. E por isso, destacou, “há uma grande expectativa no conjunto da América Latina sobre a presença de um grupo de jornalistas do ComunicaSul, profissionais que contribuirão de forma solidária na denúncia da violência e da fraude, e lutando pela democracia”.
A Colômbia foi apontada recentemente como um dos países mais violentos do mundo devido ao padrão perturbador de “remoção de sindicatos” e “assassinatos com impunidade” de lideranças. Desde 2016, cerca de 1.300 dirigentes foram assassinados, com muitos correndo risco de vida por defenderem direitos coletivos. Somente no ano passado, ao menos 135 foram mortos.
LEONARDO WEXELL SEVERO