Foto: Rafael Holanda Barroso

Jonatas Campos e Vinicius Mansur, de Caracas – Venezuela

O governador do Estado de Miranda e candidato da oposição, Henrique Capriles Radonski, fez sua última grande mobilização popular na capital, Caracas, na tarde deste domingo (7). Como de costume no país, seja qual for a opção política, uma imensa multidão encheu a Avenida Bolívar, no centro da cidade.
Dando sequência a tática de campanha baseada em afagar o ex-presidente Chávez e apropriar-se de símbolos chavistas, Capriles deixou sua conhecida camisa azul e apareceu com uma vinho – cor usada pela seleção de futebol venezuelana-, além de um grande terço católico no pescoço. No discurso, ataques diretos ao adversário Nicolás Maduro.

“Nicolás, tu és um preguiçoso, rapaz”, disse acusando o presidente de não trabalhar na época em que era motorista do metrô de Caracas. “Averiguamos com os companheiros do metrô. Esse senhor nunca trabalhou, sempre tirou licença para não trabalhar”, acusou Capriles.

Também ficou patente que a campanha de Henrique Capriles incorporou propostas do chavismo na tentativa de investir neste eleitorado. O candidato prometeu em seu discurso dar nacionalidade venezuelana aos médicos cubanos do programa Misión Barrio Adentro (Missão adentro da comunidade, em tradução livre). Esse foi um dos programas do governo do presidente Chávez mais criticados por todos os partidos de oposição.

Foto: Heyder Garcia

Ao falar de Chávez, referindo-se a ele pelo nome, situação impensável na campanha do ano passado, Capriles relatou uma conversa que teve com o presidente em 1999, quando de sua primeira vitória. Na época, Capriles foi eleito deputado pelo partido conservador Copei (partido social cristão). “Tive a oportunidade de conhecer o presidente Chávez. Conversamos sobre o processo de mudanças, conversamos sobre a Constituição e recordo das palavras (de Chávez): ‘somos de partidos distintos, mas não somos inimigos. Você ama Venezuela, eu também amo profundamente a essa pátria’”, relatou o oposicionista. 

Mas o tom mudou ao referir-se ao atual presidente do país caribenho. Capriles afirmou que Maduro recebe apoio das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e que editou um pacote com medidas maléficas à economia do país. Até o comparou com o “diabo”.

“Eu qualifico essa como uma luta espiritual, quando sei que há pessoas que ameaçam o povo, tratando de amedrontá-lo com seu voto. Somente satanás faz esse tipo de coisa. Somente o diabo é capaz de fazer esse tipo de coisa para amedrontar a um venezuelano”, bradou para seus eleitores.

No meio da multidão, o discurso de Capriles tem grande aceitação. Uma estudante de comunicação social da Universidade Católica, Romaira Mendes, disse a reportagem que “Chávez deve ser aplaudido porque  se preocupou com as pessoas com menos recursos, coisa que não fizeram os outros governos”, mas enfatizou que “Maduro não é Chávez”. “Na campanha eleitoral, que é curta, Capriles disse muitas propostas, com base, enquanto Maduro não disse nenhuma, nenhum projeto, o que vai continuar, o que vai fazer de novo”, defendeu. Apesar dos elogios ao ex-presidente, “Conhecer três papas e um só presidente e uma só maneira de pensar? Não me calo!”

Foto: Vinicius Mansur

O administrador Miguel Paleron também seguiu a linha do reconhecimento póstumo de Chávez somado a negação de um futuro chavista para a Venezuela. “Se é certo que o governo que representou Chávez por 14 anos colocou a população mais pobre no topo de sua lista também é certo que em 14 anos a Venezuela perdeu a bússola econômica. Mas eu acho que Capriles pode seguir com o compromisso de manter o bom trabalho que fez o governo Chávez, ou seja, as missões, as coisas boas”, opinou.

A também administradora Virginia Leon afirmou que “Chávez era um projeto, um presidente, Maduro é disfarce”. Perguntada por que votava em Capriles, afirmou: “Porque sou contra o socialismo. Quero segurança, estabilidade para o meu país e quero que todos tenhamos uma melhor oportunidade. O socialismo é um atraso para todos”.

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