“Ver como os comitês de campanha de Federico Gutiérrez, candidato de Uribe, se vestem com cartazes de Rodolfo Hernández me causa profunda indignação”, afirmou Jonathan Pulido, o senador mais votado da Coalizão Centro Esperança
LEONARDO WEXELL SEVERO / COMUNICASUL
Após ter apoiado o candidato Rodolfo Hernández ao longo de todo o primeiro turno das eleições presidenciais na Colômbia, o senador mais votado da coalizão Centro Esperança, Jonathan Pulido, mais conhecido como JotaPe Hernández, decidiu desembarcar de vez da campanha, pois “não estará onde estiver o uribismo”.
“Não vou estar no mesmo lugar onde se encontram os assassinos deste povo que tanto tem lutado por um país melhor”, acrescentou o famoso YouTuber, aberto ao diálogo com Gustavo Petro – o candidato da coalizão progressista Pacto Histórico – que somou mais de 8,5 milhões de votos nas eleições de domingo (29) passado. Por agora, JotaPe falou que quer uns “dias de paz”.
O senador disse que acompanhou o prefeito de Bucaramanga – capital de Santander, pelo seu discurso anti-corrupção, com o qual alcançou quase seis milhões de votos – derrotando o candidato Federico “Fico” Gutiérrez, abertamente identificado com o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
Uribe é tristemente lembrado pelo “Plano Colômbia”, de aberta submissão aos Estados Unidos, e implantação dos esquadrões de morte responsáveis pela execução de milhares de oposicionistas e de civis reportados como guerrilheiros mortos em combate, os chamados “falsos positivos”.
“Eu enxerguei Rodolfo Hernández como um candidato completamente independente, que conseguiu passar para o segundo turno, porém se encontrou, inadvertidamente, com esses uribistas que tanto tenho denunciado”, declarou o senador eleito pela Aliança Verde. Pulido citou os flertes que figuras proeminentes do uribismo como María Fernanda Cabal e Paloma Valencia vem fazendo à candidatura.
“Ver e escutar María Fernanda Cabal, a mesma que tanto desprezava a juventude, a mesma que chamou de vagabundos a esses jovens a quem roubaram todas as oportunidades, a mesma que insultou os valentes lutadores do Valle e que desprezou a manifestação artística do bravo povo de Cali. Ver Paloma Valencia, José Obdulio Gaviria, Óscar Iván Zuluaga presenciando as reuniões dos rodolfistas”, disse JotaPe, fez com que dissesse basta.
Além disso, no vídeo onde JotaPe informou que abandonava Rodolfo Hernández, acrescentou fotografias esclarecedoras: inúmeras sedes oficiais da campanha de Fico Gutiérrez colocadas a serviço de Rodolfo Hernández. “Ver hoje como as casas de Fico, o títere do uribismo, se vestem com cartazes rodolfistas me causa uma profunda indignação!”, expressou.
Antes de encerrar o vídeo em que manifesta ter desistido de votar pelo candidato da autoproclamada “Liga de Governantes Anticorrupção”, o senador explicou que “os colombianos estão fartos de clãs corruptos, de ratos de colarinho branco que eu decidi combater”. “A Colômbia se cansou do uribismo e o uribismo está aterrizando em sua campanha. Onde eles estão, eu e muitos dos que me acompanham não vão estar”, reiterou.
“Com o seu voto, os colombianos ratificaram seu desejo de mudança com o fim da era do uribismo e uma retumbante rejeição ao governo de Iván Duque e aos partidos políticos que o acompanhavam”
Agradecendo a cada um dos 888 mil votos recebidos, a Coalizão Centro Esperança reafirmou que o caminho escolhido pelo povo é de oposição. “Com seu voto, os colombianos decretaram o fim da era do uribismo, assim como ratificaram seu desejo de mudança para a Colômbia e sua retumbante rejeição ao governo de Iván Duque e aos partidos políticos que o acompanhavam”, sublinhou o comunicado assinado pelo candidato presidencial Sergio Fajardo, Luis Gilberto Murillo, Humberto de la Calle, Juan Fernando Cristo, Carlos Amaya, Juan Manuel Galán, Alejandro Gaviria, Jorge Robledo, Berenice Bedoya (Aliança Social Independente), John Arley Murillo (Colômbia Renascente) e Juan Manuel Ospina (Dignity). Diante de uma intensa disputa interna, a Coalizão decidiu liberar os militantes para o segundo turno.
No conjunto da sociedade, uma vez informada, a situação não é tão confortável como parece para o “engenheiro” Rodolfo Hernández, um político oriundo do setor privado que ganhou rios de dinheiro com o uso e abuso da máquina pública, por contratos ilícitos como o da coleta do lixo de Bucaramanga, pelos quais está sendo inclusive investigado pela Procuradoria Geral da Nação.
Há provas de favorecimento pessoal em um contrato de 250 milhões de dólares que beneficiou por três décadas a empresa Vitalogic, em que trabalhava seu filho, Luis Carlos Hernández, com quem teria alterado o processo de concessão nos anos de 2016 e 2017, enquanto era prefeito. Neste mesmo período, a esposa de Rodolfo, Socorro Oliveros, adquiriu duas casas nos Estados Unidos no valor de um milhão de dólares.
“O DISCURSO DE RODOLFO SE CHOCA COM A REALIDADE”
“Todo o discurso de Rodolfo contra a corrupção se choca com a realidade, pois tem o apoio de todos os corruptos. Muita gente foi ingênua, mas por não compactuar com estas práticas creio que se distanciará do candidato. E vão ser muitos”, aponta o bibliotecário Crisanto Gómez, da Universidade Pedagógica da Colômbia, um dos bastiões do estallido [levante] social na capital do país, Bogotá.
Outro ponto importante, assinala Crisanto, é que a campanha de Petro precisa se atentar mais para a necessidade de ampliar o diálogo, com muita serenidade, dando todos os dados para o convencimento, sem sectarismos, ponto para o qual o candidato oposicionista já havia alertado no último domingo. E Petro falou não só de buscar votos nos eleitores dos demais candidatos, mas de sensibilizar e mobilizar para que a população vá às urnas, já que houve uma abstenção superior a 40%, pois o voto não é obrigatório.
Para o bibliotecário, “tudo vai depender da forma tranquila e bem informada com que a militância do Pacto Histórico abordará a cidadania”. Segundo Crisanto, um dos problemas ocorridos no primeiro turno foi justamente o “triunfalismo”, o famoso “já ganhou”. “Isso causou um pouco de dano”, alertou, pois quando uma parcela da militância se põe sectária e “é agressiva com uma população a quem já haviam infundido medo, as pessoas ficam atemorizadas”. “Creio que superando esses problemas, é possível vencer”, conclui.
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