Em meio a tantos sotaques árabes nos dias de Fórum Social Mundial, na Tunísia, foi emocionante ouvir clássicas músicas em espanhol latino-americano, conhecidas de todos os lutadores por justiça no mundo, no campo onde está o acampamento da juventude, no meio da tarde de sexta-feira, 29 de março. Proposta pela Via Campesina e por outras organizações, foi realizada uma linda homenagem para lembrar e homenagear o presidente Hugo Chavez Frias e o socialismo bolivariano.
Chokri vive! Chavez vive! era o grito que unia os povos na manifestação, lembrando dois grandes líderes de esquerda mortos recentemente. Chokri Belaid, lider comunista tunesiano assassinado em 6 de fevereiro, tem sido lembrado diariamente em manifestações na principal avenida de Tunis, durante este FSM. Os tunisianos “trazem a memória da América Latina na região, quando juntam Che, Chavez e Chockri”, disse Miriam Nobre, secretária internacional da Marcha Mundial de Mulheres. Ela não está exagerando. Encontramos na noite tunesina, num bar, seguranças utilizando como uniforme uma camiseta com os três líderes revolucionários. “Os tunisianos tem grande carinho por Chavez”, continua Miriam, “porque eles sentem os ecos da revolução bolivariana aqui, a ideia de que é possível concretizar a revolução socialista.
A gente sente de fato o internacionalismo, há um sentimento de unidade que vem de uma história comum de resistência em várias partes do mundo, onde há vontade de transformação social”.
Também Barkin David, professor emérito da Universidade Autônoma Metropolitana do México, falou-me da “luz de solidariedade e compreensão” que representou Chavez para a Primavera Árabe. Colaborador de grupos que constroem sociedades pós capitalistas no México, como em Oaxaca, o professor Barkin foi convidado à Venezuela por seis vezes pelo presidente Hugo Chavez para trabalhar com grupos de camponeses e de servidores públicos de água, por sua experiência com comunidades “que rechaçaram o capitalismo, e estão empenhadas em conservar e recuperar suas identidades originárias”. O poema de Brecht iniciou as falas do emocionante ato.
Nossos inimigos dizem: a luta terminou. Mas nós dizemos: ela começou. Nossos inimigos dizem: a verdade está liquidada. Mas nós sabemos: nós a sabemos ainda.
Nossos inimigos dizem: mesmo que ainda se conheça a verdade ela não pode mais ser divulgada. Mas nós a divulgaremos.É a véspera da batalha. É a preparação de nossos quadros. É o estudo do plano de luta. É o dia antes da queda de nossos inimigos.
François Hutard, sociólogo marxista belga e membro do Conselho Internacional do FSM, foi o primeiro a pronunciar-se no ato. Ele destacou o “contato profundo” que Chavez tinha pelas outras pessoas, pelos movimentos sociais e seus líderes em todo o mundo. “Apesar de militar e diplomado, partilhava as preocupações cotidianas do seu povo, reorganizou o Estado da Venezuela pelas necessidades das pessoas”, disse ele.
Pela campanha de Nicolas Maduro, que concorre à presidência da Venezuela no lugar de Chavez nas eleições do próximo dia 14, falou Farid Fernandez. Ele lembrou a relação especial que tinha o presidente venezuelano com o FSM, do qual participou de diversas edições desde 2003, logo depois de ter sofrido uma tentativa de golpe por forças reacionárias em seu país. “Chavez faz parte da história do Fórum Social Mundial e a palavra dignidade, lema deste FSM, foi um dos componentes principais da politica que o presidente levou ao povo venezuelano, com a defesa e o reconhecimento de sua identidade cultural, a defesa da soberania da pátria frente ao imperialismo, da dignidade latino americana. Ele mostrou que é possível concretizar o sonho de união de Bolívar”.
Douglas Estevam, falando pelo MST e pela Via Campesina, contou da visita de Chavez, por ocasião do FSM de 2005, a uma das ocupações dos sem terra no Brasil. “Ele sempre lutou pela integração dos povos e ajudou muito na integração latino americana. Chavez chamou a solidariedade a esses povos, sobretudo com o Haiti, falou da importância de nossa relação com a África, já que a América foi formada com a luta dos povos que vieram do continente africano”, disse. Estevam lembrou de que o presidente venezuelano ajudou a constituir a primeira escola de agroecologia latino-americana, enquanto os camponeses do Brasil enviavam sementes não modificadas geneticamente para o país de Chavez. “Vamos seguir a luta com Chavez!”
“A luta segue, segue, Chavez vive, vive!”