Ditadura argentina deixou mais de 33 mil desaparecidos

Nesta segunda-feira (24), completam-se 38 anos do golpe de Estado que instituiu uma ditadura cívico-militar na Argentina. No país conhecido pelos brasileiros como um exemplo do resgate da memória e da punição aos envolvidos nos crimes de assassinato e tortura cometidos pelos governos autoritários, cerca 20% dos argentinos consideram que o golpe foi justificado e outros 20% dizem não ter condição de opinar a respeito, em pesquisa realizada pelo jornal Página/12.


Nesta segunda-feira (24), completam-se 38 anos do golpe de Estado que instituiu uma ditadura cívico-militar na Argentina. A data, feriado nacional, é conhecida no país como Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça e terá diversas ações em todo o país para lembrar o passado.


No país conhecido pelos brasileiros como um exemplo do resgate da memória e da punição aos envolvidos nos crimes de assassinato e tortura cometidos pelos governos autoritários, cerca 20% dos argentinos consideram que o golpe foi justificado e outros 20% dizem não ter condição de opinar a respeito, em pesquisa realizada pelo jornal Página/12.

De acordo com a consulta realizada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Ceop), seis em cada 10 argentinos consideram que o golpe de Estado de 1976 não era justificável. A sondagem foi feita com 1044 pessoas de todo o país, via telefone, respeitando-se a proporção de idade, sexo, nível econômico social e a proporção entre cidades grandes e pequenas.

Entre os consultados, há uma notória diferença de opinião entre os que nasceram antes e os que nasceram depois da ditadura no país. No geral, 54% consideram que “a pior democracia é melhor que uma ditadura”. Mas, quando é feito o recorte por idade, 62% dos que nasceram antes do golpe estão de acordo com a frase acima. Entre os que não viveram o processo, apenas 43% concordam com a afirmação e 37%, uma porcentagem muito próxima, pensa que diante de uma má democracia, uma ditadura é aceitável. Em quase todas as questões, aproximadamente 20% dos jovens afirmaram não ter opinião formada a respeito.

Segundo o responsável pela pesquisa, Roberto Bacman, na Argentina, “o problema que enfrentamos é o da memória e mais precisamente a memória coletiva. O que nós procuramos saber foi o que a sociedade lembra e como essas memórias estão presentes hoje. Como a memória coletiva é uma construção social, seu objetivo não é apenas lembrar o passado, mas também dar uma explicação e um sentido para o presente. Além do mais, o passado não permanece imutável, sempre aparece disposto a ser moldado pelas ideias e experiências do presente”.

A percepção a respeito de quem apoiou o golpe também varia de acordo com a idade dos entrevistados. Para os contemporâneos do golpe, a maior responsabilidade recai sobre os partidos políticos, em segundo lugar nos cidadãos comuns, nas grandes empresas e nos grandes meios de comunicação. Já os filhos da democracia consideram que os maiores responsáveis pelo golpe foram os meios de comunicação, seguidos pelos partidos e pela igreja.

Para Bacman, a opinião diverge devido ao amplo debate realizado nos últimos anos em torno da Lei de Meios, que acabou com o monopólio midiático detido pelo Grupo El Clarín, a partir do qual se fez conhecer o poder que têm os meios de comunicação na sociedade.

Desconhecimento

Mesmo com as diversas ações na Argentina em favor da memória e destes eventos, mesmo com a presença constante das mães e avós semanalmente na histórica Praça de Maio, a inclusão do conteúdo sobre a ditadura no currículo escolar e o dia 24 de março ser um feriado nacional, ainda há jovens, principalmente os mais pobres, que se dizem sem condições de avaliar/ interpretar estes eventos.

“Uma coisa que você se pode ignorar e que se repete ao longo do estudo é o importante desconhecimento ou incapacidade de responder observada em uma grande parte da população. Em vários indicadores medidos, existe em torno de 20% dos entrevistados que não puderam manifestar uma opinião ou posição. É uma conta pendente da sociedade. Nesse “não sabe/ não responde” está a ausência de interpretações claras do que aconteceu e não houve um processo de transmissão social”, afirmou o pesquisador.

“A existência de uma parte que não se manifesta é um desafio social: há um segmento da população em que o trabalho de memória coletiva não funcionou, onde os grupos primários — família, amigos, escola — não desempenharam a função de transmissão. É um desafio, porque outros setores podem lhes sussurrar no ouvido. Você tem que construir dia a dia e de maneira cotidiana, especialmente na família e na escola, a democracia. Tem que continuar operando na memória, conscientes de que no futuro deve garantir que a memória não será parte do esquecimento”.

Desta forma, cerca de 30% dos entrevistados consideram que não há questões pendentes e que o processo de transição para a democracia deve ser um “caso encerrado”. Por outro lado, os que consideram que há um longo caminho a percorrer mencionam principalmente ser necessário terminar de julgar e punir os culpáveis e recuperar as crianças sequestradas durante o processo.

A sondagem aponta que existe uma faixa de pessoas autoritárias no país que tradicionalmente pedem ordem, se manifestam contra os imigrantes, são partidários da “mão dura”, se opõem ao matrimônio igualitário e outras políticas democráticas ou progressistas.

 *com informações do Página/12

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