“Permanecem a guerra econômica e as ações de interferência, desinformação e descrédito financiadas com fundos federais estadunidenses”, condenou o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, uma prática de décadas, “voltada a asfixiar a economia cubana e provocar escassez”
Reconhecido como o principal psicopata da história pelo mar de sangue promovido com suas intervenções armadas ao longo dos séculos 19, 20 e 21, os Estados Unidos outorgou-se agora o direito de retirar Cuba da sua “lista de patrocinadores do terrorismo”.
Ao apagar das luzes, o governo de Joe Biden – que entre outros crimes continua dando sustentação política, financeira e militar ao genocídio do povo palestino em Gaza e na Cisjordânia e ao regime fantoche de Zelensky, na Ucrânia – informou na terça-feira (14) sua “decisão”.
Como se houvesse qualquer resquício de autoridade no único país que lançou covardemente uma bomba atômica (contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, com o único fim de intimidar a União Soviética); que invadiu, prendeu e torturou na Guatemala (1954), Vietnã (1965-1973) Panamá (1989), Iraque (1990 e 2003), Iugoslávia (1995), Afeganistão (2001), Líbia (2011) e Síria (2014), matou centenas de milhares de pessoas e demoliu sua infraestrutura, para julgar a soberania de quem quer que seja. Ainda mais quando se trata da Ilha caribenha que se converteu em sinônimo de amor e solidariedade aos povos do planeta, marcadas por suas incansáveis e exemplares brigadas médicas – como na Bolívia e no Brasil – e de combate ao analfabetismo – como o que está sendo erradicado recentemente em Honduras junto com o governo de Xiomara Castro.
PRESIDENTE CUBANO DENUNCIA “DECISÃO
TARDIA E COM ALCANCE LIMITADO”
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, esclareceu que esta é “uma decisão na direção certa, embora tardia e com alcance limitado”, já que “permanecem o bloqueio – iniciado em 1961 – e a maior parte das medidas extremas que foram postas em prática desde 2017 para asfixiar a economia cubana e provocar escassez ao nosso povo”.
Díaz-Canel agradeceu “a todos aqueles que contribuíram para a decisão anunciada pelos EUA de excluir Cuba da lista de Estados patrocinadores do terrorismo, que nunca deveria ter existido e que, juntamente com outras duas medidas adotadas, teve um custo elevado para o país e para as famílias cubanas”.
WASHINGTON E O PLANO DE “EXPLODIR A ECONOMIA”
Em 1º de janeiro de 1959 a revolução cubana depôs o ditador Fulgêncio Batista. Marionete de Washington, ele se empenhava em fazer do país um paraíso para os EUA, reprimindo de forma brutal qualquer voz contrária. Entre outras barbáries, suas tropas praticaram sequestros clandestinos, torturas com queimaduras e arrancaram olhos, como o realizado com o líder Abel Santamaría, braço direito de Fidel Castro, em 1953.
Em 1960, o vice-secretário adjunto de Estado para Assuntos Interamericanos dos EUA, Lester D. Mallory, enviou um memorando secreto ao presidente Dwight Eisenhower (1953-1961) sugerindo a aplicação “rápida de todos os meios possíveis para enfraquecer a vida econômica de Cuba”, a fim de privar o país de “dinheiro e suprimentos, reduzir seus recursos financeiros e salários reais, provocar fome, desespero e a derrubada do governo”.
O documento reconhecia que diante do majoritário apoio ao governo de Fidel, “a única maneira previsível de minar seu apoio interno era por meio do desencanto e da insatisfação decorrentes do mal-estar econômico e das dificuldades materiais”. Portanto, era necessário “explodir a economia”, prática já aplicada pelos estadunidenses contra governos de vários países.
DA “LEI DE COMÉRCIO COM O INIMIGO” AO BLOQUEIO
Essa política foi aprimorada pelo presidente John F. Kennedy (1961-1963), que logo após assumir o cargo começou a aplicar a “Lei de Comércio com o Inimigo” para suspender as relações com a Ilha, iniciando oficialmente um bloqueio econômico, comercial e financeiro que vem sendo mantido até os dias de hoje.
No campo militar, em abril de 1961 a CIA treinou e dirigiu um grupo de exilados cubanos que, com apoio das Forças Armadas dos EUA, invadiu a Baía dos Porcos (Batalha de Praia Girón). Pela força da mobilização popular, o confronto foi um tremendo fracasso para os norte-americanos, com Fidel comemorando junto ao povo “a vitória sobre o imperialismo americano”.
A experiência e a referência adquiridas foram decisivas para a solidariedade contra o apartheid, regime de discriminação racial que dava sustentação à guerrilha da ultradireita da Unita, em Angola. De forma admirável, por 15 anos, 36 mil soldados cubanos praticaram o internacionalismo e combateram lado a lado com a guerrilha do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) até a derrota do regime de segregação e exploração na batalha de Cuito Canavale, o mais longo confronto da guerra civil, ocorrido entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988.
“A derrota do exército racista deu a Angola a possibilidade de desfrutar da paz e consolidar sua soberania… e desmoralizou o regime racista branco da África do Sul, inspirando a luta contra o apartheid. Sem Cuito Cuanavale, isso jamais teria acontecido”, reconheceu o líder sul-africano Nelson Mandela.
De lá para cá foram centenas de tentativas de assassinato de Fidel, bombas em hotéis, sabotagens internas e externas por parte dos sucessivos governos estadunidenses visando que os inumeráveis êxitos obtidos no campo da educação, da saúde, da ciência e da tecnologia ecoem.
CUBA SE MANTÉM COMO REFERENCIAL PARA OS POVOS
Em outubro de 2024 a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) condenou, pela trigésima segunda vez, o embargo que os Estados Unidos mantêm contra Cuba há mais de seis décadas. Intitulada “Necessidade de acabar com o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”, a resolução apresentada por Havana ganhou o mais amplo respaldo na ONU, no mais sonoro não à barbaridade estadunidense. A decisão foi praticamente unânime, obtendo 187 votos a favor, os dois habituais contra – dos EUA e o regime fantoche de Israel – além da abstenção da Moldávia. Anteriormente, em 2019, Bolsonaro aliou o voto do Itamaraty à Casa Branca.
O bloqueio contra Cuba, que consiste em um extenso e complexo emaranhado de leis, decretos e resoluções com o objetivo de sufocar a economia da ilha caribenha, inevitavelmente traz dificuldades ao cotidiano da população. De acordo com as últimas estimativas da ONU, o bloqueio gerou perdas de US$ 13 milhões de dólares (R$ 78,4 milhões) por dia para o Estado cubano somente no período 2022-2023.
Em outubro do ano passado a chancelaria cubana apontava que, em valores atualizados, os danos acumulados durante mais de seis décadas de bloqueio ascendem a US$ 164,14 bilhões (R$ 990 bilhões). “Se levarmos em conta o comportamento do dólar frente ao valor do ouro no mercado internacional, o bloqueio causou danos quantificáveis de mais de um trilhão e 499.710 milhões de dólares”.
Diante do dilema colocado, reiterou nesta terça o presidente cubano, “continuaremos enfrentando e denunciando a guerra econômica e as ações de interferência, desinformação e descrédito financiadas com fundos federais estadunidenses”. Ao mesmo tempo, enfatizou Díaz-Canel, “não desistiremos de desenvolver uma relação civilizada que respeite a nossa soberania com os Estados Unidos”.
LEONARDO WEXELL SEVERO