Marisol Khipo, estudante de Direito de origem indígena (ao centro) com a família e apoiadores (MFS/ComunicaSul)

Entrevistas realizadas nas ruas da capital, Quito, e de Guayaquil contrariam grande mídia e apontam para a esperança da mudança

MONICA FONSECA SEVERO

Direto do Equador

Em contraposição ao discurso xenófobo e repressivo reverberado pelos conglomerados midiáticos que dominam o Equador, nossa reportagem ouviu pessoas comuns, cheias de convicções que levarão às urnas neste domingo (20) para mudar o país. Como entoavam nos comícios da Revolução Cidadã, “Alerta que caminha a espada de Bolívar pela América Latina”.

Miriam Taipe (34), assistente administrativa da área comercial, veio da área rural para tentar a vida em Quito. Com seu filho Alejandro (11), participava do comício de campanha da candidata Luisa González, que aconteceu no Bairro Solanta, na quarta-feira (16). “Migramos para a cidade pois as condições de vida no campo estão muito difíceis. Faço um enorme esforço para sobreviver aqui em Quito. Me identifico com as propostas do Revolução Cidadã (RC) e espero que o movimento volte para apoiar os mais vulneráveis, para trabalhar pela nossa educação, fazer as estradas que precisamos para desenvolver o interior, para que as pessoas consigam viver melhor”.

Miriam Taipe e seu filho Alejandro (MFS/ComunicaSul)

Estudante de Direito de origem indígena, Marisol Khipo (28) aceitou ser candidata à uma das 137 vagas da Assembleia Nacional por acreditar na “capacidade que nós mulheres jovens e indígenas temos para ocupar lugares de decisão”. “E agora, vamos recuperar a nossa Pátria”, frisou.

Na avaliação de Marisol, “Luiza representa a capacidade das mulheres, que nos organizamos melhor e administramos muitas coisas ao mesmo tempo, pois a vida nos exige isso”. “Éramos o segundo país mais seguro da América Latina e agora somos um lugar de medo, as pessoas dizem ‘não vão para o Equador’. Então precisamos de bolsas de estudos, de cirurgias e medicamentos gratuitos, de emprego e segurança, tudo ao mesmo tempo”, defendeu.

Como serão apenas um ano e meio de mandato do novo governo, os candidatos terão que se empenhar, uma vez que assim como o desemprego, a informalidade e a fome – o Equador encabeça hoje a lista da desnutrição infantil -, a violência tem crescido de forma alarmante. Nos últimos seis anos a taxa de homicídios foi multiplicada por cinco.

DIREITO AO TRABALHO

Na luta pelo direito ao trabalho, ao lado de um grupo de vendedores ambulantes, Pamela Gomes (31) fundou a “Associação de Comerciantes 1º de Julho”, e se disse determinada a votar nos candidatos do Revolução Cidadã.  “Eles fizeram coisas boas antes, os hospitais eram bem atendidos, as escolas iam bem, o Estado comprava primeiro de nossos fabricantes, os empreendedores eram estimulados”. “Anteriormente, aqui em Quito, a prefeitura nos perseguia e tomava nossas mercadorias. Agora, na gestão do Revolução Cidadã, a prefeitura está organizando um espaço e vai regularizar nosso trabalho, vamos deixar de ser ilegais”. “Vou votar em Luisa e espero que não nos traia, como ocorreu antes com Lenín Moreno [eleito pelo RV, tomou medidas recessivas e antipopulares]”, explicou Pamela.

Orlando Vivas. Janeth Pasmiño, Pamela Gomes e Rodrigo Galindo (MFS/ComunicaSul)

Entre outros atropelos, Moreno impôs em outubro de 2019 toque de recolher e militarização de toda a capital, Quito, quando uma multidão se levantou contra a submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e o corte do subsídio dos combustíveis, o que fez o preço disparar em 123% do dia para a noite.

Trabalhadora no Museu Guayasamín, na capital, Paulina Gordon, relatou que é correísta com muito orgulho: “Voto em Luisa por todas as coisas boas que fizeram por nosso país, e que os que vieram depois só destruíram. Temos que salvar a Pátria, apoiar a candidatura de Luisa para que possamos voltar ao que já fomos há seis ou oito anos atrás. Com Correa nossa sociedade mudou demais, assim como a nossa vida cotidiana, as pessoas estavam contentes, transformaram-se os valores, a expressão ‘direitos humanos’ passou a estar na boca de todos nós. Eu vi como esta sociedade pode ser, podemos fazer diferente do que temos agora”, explicou.

Paulina Gordon na Capela do Homem (LWS/ComunicaSul)

Oswaldo Guaysamín foi um importante artista equatoriano que, com suas pinturas, desenhos, esculturas e grandes murais, denunciou a crueldade, a injustiça, assim como ternura e a solidariedade. Suas criações, marcadas pela tradição andina e demais povos originários da Nossa América, impactam profundamente os observadores. O grande humanista, amigo de Fidel Castro, Mercedes Sosa, Pablo Neruda, Pacco de Lucía, entre outros gigantes, registrou a dor e a esperança dos pobres e injustiçados do mundo. Representou indígenas, afrodescendestes e mestiços como a essência do continente

Vendedor ambulante nas ruas da cidade portuária de Guayaquil, Jaime Pita reconheceu o ex-presidente Jaime Roldós [político desenvolvimentista equatoriano que morreu em inexplicada explosão de avião, em 1981] estampado nas camisetas do ComunicaSul. “Era um homem alto que conheci na infância, pois foi visitar a pobre comunidade em que eu vivia com minha família. Era um político que tinha compromisso com os pobres, e por isso o mataram”, relatou.

Jaime Pita recordou Jaime Roldós (MFS/ComunicaSul)

O presidente equatoriano foi morto em maio, junto com a esposa Marta, ao ter uma bomba colocada em um gravador, que explodiu o avião em que estavam. Outros dois opositores ao intervencionismo estadunidense, perderam suas vidas na sequência, também em explosões dos aviões em que viajavam: Rafael Hoyos Rubio, comandante do Exército peruano, em junho o líder da revolução panamenha, Omar Torrijos, em julho. Todos vítimas da Operação Condor, operação da Central de Inteligência Americana (CIA) que conectava as ditaduras em nossos países.

“No dia de seu assassinato, 24 de maio, a seleção equatoriana tinha um importante jogo de futebol na cidade. Nossos jogadores entraram em campo abalados, choravam em campo, perdemos e fomos desclassificados”, relembrou Jaime. Vestido com camiseta com o rosto de Luisa González à presidência, o vendedor exalava esperança.

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A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições presidenciais e à Assembleia Nacional do Equador graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicatos dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP) e de Santa Catarina  (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS) e dezenas de contribuições individuais.

É permitida a reprodução do artigo desde que citada a fonte e os apoiadores.

 

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