Rodolfo Hernández, outsider que se lançou como alternativa antissistema, deve ganhar os votos de Fico Gutierrez, candidato da extrema-direita
A Colômbia foi às urnas neste domingo (29) para escolher um novo presidente. O resultado, no entanto, será definido apenas no segundo turno, a ser realizado em 19 de junho, entre Gustavo Petro, candidato progressista do Pacto Histórico, e Rodolfo Hernández, outsider de extrema-direita da coalizão Liga.
Sobre o panorama e o que esperar da segunda fase da corrida eleitoral, os jornalistas da ComunicaSul Felipe Bianchi, Caio Teixeira, Vanessa Martina Silva e Leonardo Wexell Severo conversaram nesta segunda (30) durante live transmitida diretamente de Bogotá.
Já era esperado que Gustavo Petro teria a maioria dos votos. A dúvida era se haveria ou não um segundo turno, como observa Vanessa Martina, editora da Diálogos do Sul. O inesperado, conforme os especialistas, foi a ascensão de Rodolfo Hernández, Alternativa de última hora do uribismo.Alternativa de última hora do uribismo.
Ausente em debates e mobilizações, Hernández cresceu 10 pontos em apenas um mês, com um discurso anticorrupção e antissistema de “nem esquerda, nem direita”, semelhante a Trump e Bolsonaro.
O tipo não falha: além de enfrentar processo por corrupção, Hernández já assumiu publicamente admirar Adolf Hitler: “É a mesma direita racista, classista e machista”, aponta Vanessa. Ela afirma ainda que essa postura não é um problema no país colombiano: “o uribismo é fascista e isso é normalizado pelos grandes meios de comunicação”.
Candidato do governo, Federico Gutiérrez, que ontem fechou a contagem em terceiro lugar, já declarou que seus votos devem ir diretamente a Hernández, “nenhum para Petro”. Nisso reside o maior desafio do progressista.
Juntos, Fico e Hernández somam aproximadamente 11 milhões de votos, contra mais de 8,5 milhões de Petro. Para superar a marca, a saída para o candidato do Pacto Histórico deve ser levar às urnas uma boa parcela de mais de 40% do eleitorado, que se absteve.
Jornalista do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Felipe Bianchi aponta que o país, assim como a América Latina e o mundo, passa por uma fase de desencanto com a via democrática como ferramenta de mudança. A esperança vem da comparação com as eleições no Chile, que elegeram Gabriel Boric: apesar das abstenções no primeiro turno, muitas pessoas foram às urnas no segundo para derrotar o fascismo, representado por José Antonio Kast.
Outra barreira que Petro deve enfrentar é a repressão sofrida pela população colombiana. A Missão de Observação Eleitoral divulgou ontem que empresas limitaram a saída de trabalhadores para votar.
Outro problema, ainda mais grave, pontuado pelo jornalista e escritor Caio Teixeira, são os grupos paramilitares, como o Clã do Golfo, que promove terror nas cidades do interior, sob uma relação promíscua com narcotraficantes e o Estado, pela manutenção da extrema-direita no poder, e impede que pessoas saiam para participar das eleições.
Petro, apesar das incertezas, deixa um exemplo para Lula e à corrida eleitoral no Brasil, de acordo com Leonardo Wexell Severo, repórter especial do jornal Hora do Povo. O Pacto Histórico apostou na amplitude para derrotar o fascismo, na paridade de gênero no Senado e em mudanças relacionadas ao enfrentamento aos bancos, impulso à industrialização, geração de empregos e quebra da dependência internacional.
Com esses ideais, a campanha animou e conquistou os colombianos, alcançando um resultado histórico para as forças progressistas da Colômbia.
Assista à live completa e entenda melhor o quadro das eleições na Colômbia com a equipe da ComunicaSul.
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