por Renata Mielli, de Caracas

“O que vivemos hoje na Venezuela não é apenas uma conjuntura eleitoral. Estamos num momento que se está colocando em prova a revolução e seus avanços” afirmou a 2ª vice-presidente da Assembleia Nacional da República Bolivariana e deputada pelo PSUV, Blanca Eckhout, na tarde desta sexta-feira, 05/10.

Ela conversou com representantes de vários países que estão na Venezuela para acompanhar as eleições presidenciais do próximo domingo. Blanca, que também presidente o Gran Polo Patriótico – bloco que reúne todos os partidos e movimentos sociais que apoiam a revolução bolivariana e compreende mais de 28 setores e 8 mil movimentos com a participação de cerca de 34 mil organizações – salientou que há uma ação coordenada entre a elite venezuelana e internacional para tentar frear os avanços econômicos e sociais alcançados pelo país com a revolução bolivariana e impedir que ela se espalhe pela América Latina.

Blanca Eckhout

Em um breve relato sobre a disputa política na Venezuela desde o início do processo eleitoral, Blanca descreveu a ofensiva da direita contra o governo de Hugo Chávez. “ Desde 11 de junho se intensificou uma campanha dura dos meios de comunicação privados,questionando as condições do presidente Chávez de ser candidado, em razão dos problemas de saúde que ele enfrentou. Geraram dúvida, disseminaram medo e incerteza, para tentar dividir o povo e o partido. Mas isso acabou unindo ainda mais o partido e a militância em torno da candidatura de Chávez, porque o povo tem consciência política e os movimentos sociais estão organizados para defender as conquistas da revolução”, salientou.

Ganhar no grito!
Uma das principais estratégias de campanha da direita é, segundo Blanca, desqualificar o Conselho Nacional Eleitoral – que se constituí em um poder independente na Venezuela – colocando em dúvida a lisura do processo de votação.
O principal argumento utilizado pela oposição e disseminado pelos meios de comunicação é contra a leitura biométrica, que será utilizado pela primeira vez nas eleições do dia 07. A direita diz que este processo pode violar o voto secreto – e isso já foi reproduzido largamente pela mídia brasileira. Como parte desta estratégia, em nenhum momento o candidato da oposição e os responsáveis por sua campanha se comprometeram com o reconhecimento do resultado da eleição – se o que sair das urnas for desfavorável a eles. Dizem apenas que vão reconhecer a vontade do povo.
A partir desse questionamento, alerta Blanca, a agenda da direita tem sido a de incitar a violência e disseminar o medo e, até mesmo, criar um cenário de desestabilização política na Venezuela.
Golpe midiático de novo?
A Venezuela já viveu recentemente um golpe contra o presidente Hugo Chávez, que foi idealizado, planejado e dirigido pelos meios de comunicação privados que estão à serviço da elite nacional e internacional.
Blanca lembra que o golpe foi preparado com um bombardeio prévio de notícias contra o governo. “As principais cadeias privadas passaram a veicular uma propaganda direta e indireta contra os pobres, negros, índios. Uma propaganda baseada na discriminação e racismo. Falavam dos desdentados, dos sujos e coisa pior. Isso mobilizou a elite a se levantar contra o governo. “Eles (os veículos privados que tem como objetivo o lucro) mudaram toda a sua programação – inclusive a publicitária – para conclamar a guerra civil. Até programas voltados para as crianças continham mensagens subliminares incitando a violência”, relatou Blanca.
De acordo com a deputada do PSUV, um dos fatores principais para eles não terem tido êxito no golpe foi o papel dos meios públicos e comunitários de comunicação “que enfrentaram essa campanha midiática da direita, divulgaram a verdade e mostraram ao povo o que de fato estava se passando na Venezuela.
Os veículos que conduziram aquele golpe permanecem sendo o principal pólo de oposição ao governo. Trata-se da emissora de televisão Venevisión, que pertence ao mesmo grupo econômico proprietário da Direct TV e outros grupos internacionais, e a Globovisión de propriedade de magnatas do setor financeiro que atuam em outras áreas da economia.
Eckhout chama a atenção para o fato de que são estes dois veículos os principais responsáveis pela distribuição das notícias sobre a Venezuela para as agências internancionais e meios de comunicação de outros países.
“Enfrentamos 365 dias por ano, 24 horas por dia, uma campanha permanente de desqualificação da revolução bolivariana e do governo de Chávez que acontece dentro e fora da Venezuela. Dizem que aqui não há liberdade de expressão. Isso é uma mentira que faz parte desta campanha contra a Venezuela. Temos um verdadeiro latifúndio midiático privado, com 80% do espectro radiolétrico de televisão nas mãos dos meios comerciais, que gozam da mais plena liberdade para dizer o que querem. É uma verdadeira batalha reduzir este latifúndio midiático. Hoje mais de 400 rádios comunitárias e 27 TV’s ocupam uma pequena banda do espectro que não lhes permite ter grande alcance de sinal. Por isso é uma tarefa fundamental fortaceler os meios comunitários e públicos. É preciso garantir as condições para que o povo possa fazer a sua própria comunicação, disse Blanca.
Integrar a AL para aprofundar a revolução
Na avaliação de Blanca, a elite internacional usa o seu poder midiático contra a Venezuela tendo em vista dois objetivos: o primeiro é mentir sobre a Venezuela e, com isso, justificar qualquer ação contra o governo do presidente Hugo Chávez e contar com o apoio e a simpatia internacional frente a estas ações; e segundo impedir que outros povos e países sigam o exemplo venezuelano. “Dizem que somos uma ditadura, que não temos liberdade, que aqui se violam os direitos humanos, e que Chávez é um tirano. E se há alguma liderança em outro país que tenha uma política mais a esquerda dizem: Cuidado, este candidato é como Chávez, portanto é um monstro e, com isso, tentam desfazer a ideia de que é possível fazer um governo sem servir a oligarquia e ao imperialismo, que é possível construir um outro mundo com mais justiça social e igualdade, que podemos ter uma alternativa a este capitalismo predatório”, disse Blanca.
“Por isso a importância da solidariedade internacional e dos meios de comunicação alternativos de contribuir para rompermos com este cerco midiático que não é apenas contra a Venezuela, é contra o avanço da América Latina”, alerta a vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela.
“Nós podemos resistir, mas não poderemos avançar se não houver avanços em toda a América Latina no rumo de construirmos o projeto da nossa Pátria Grande. Por isso, o esforço do presidente Hugo Chávez para construir e aprofundar a integração latino-americana e fortalecer instrumentos como a Unasul, a Celac e a Alba. Por isso, um golpe contra a Venezuela é um golpe contra toda a América Latina, e isso seria terrível”, concluiu Blanca Eckhout.

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