Daniel Cassol
de Caracas, Venezuela

O jornalista francês Maurice Lemoine, ex-redator chefe e atual colaborador do Le Monde Diplomatique, estava no lugar certo e na hora certa no dia 11 de abril de 2002. Sua presença na Ponte Llaguna, em Caracas, com uma máquina fotográfica na mão, foi fundamental para desmontar o discurso das televisões privadas da Venezuela que serviram de pretexto para a tentativa de golpe de Estado.

Naqueles dias, imagens difundidas pelas televisões privadas da Venezuela para o mundo todo mostravam chavistas atirando, supostamente, contra a marcha da oposição a Hugo Chávez. As imagens serviram de pretexto para militares retirarem seu apoio ao presidente, o que desencadeou o golpe. O trabalho de contrainformação de meios alternativos e jornalistas idenpendentes demonstrou, com imagens, que não havia manifestantes de oposição na avenida, ao contrário do que dizia a mídia venezuelana – os chavistas atiravam para se defender de francoatiradores escondidos no alto de edifícios.

“Na Europa, pelo menos, creio que fomos o primeiro veículo a divulgar aquelas imagens e mostrar o que realmente estava acontecendo”, recorda Maurice, que está em Caracas de novo, agora acompanhando a eleição polarizada entre Hugo Chávez e Henrique Capriles.

Para o jornalista, Chávez venceu a batalha ideológica contra a direita venezuelana desde a tentativa de golpe em 2002. A prova, explica, é a mudança no discurso da oposição, que reconheceu os avanços do governo Chávez.

“Durante anos e anos, e com ajuda dos meios de comunicação dominantes, impôs-se uma ideia de que na Venezuela não havia acontecido nada, que os programas sociais e as missões não haviam dado resultado. Na campanha de Capriles, pela primeira vez a oposição muda de discurso. Capriles sabe que o povo venezuelano se dá conta das coisas. Ele já não tem esse discurso. Ele diz que não vai suprimir as missões, vai melhorá-las. Isso é admitir as conquistas”, avalia Maurice. “Quando as pessoas se recordam da situação da América Latina nos anos 90, com as imposições do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Consenso de Washington, percebem que há uma diferença. Chávez não é perfeito, a revolução não conseguiu todos seus propósitos. Mas quando se faz uma comparação com as políticas de antes, a diferença é abismal”, completa.

O jornalista avalia que a eleição na Venezuela está acirrada, mas aposta em uma vitória de Chávez, o que seria de fundamental importância para a continuidade do processo de transformações liderado por Hugo Chávez na Venezuela e por Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, apesar das diferenças entre os dois governos. “A Venezuela é peça chave para a emancipação da América Latina”, finaliza Maurice.

 

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