Comandando a campanha ‘Simón Bolívar’, Capriles imita Chávez, se apropria de termos da esquerda e recusa falar com meios públicos de comunicação.
Felipe Bianchi, de Caracas-Venezuela, com informações da TeleSur
A duas semanas da primeira eleição presidencial venezuelana sem Hugo Chávez, o candidato oposicionista Henrique Capriles tem demonstrado que sua estratégia política é a provocação. Desde a apropriação de símbolos e ideias de Chávez – seu comando de campanha se chama “Simón Bolívar” – até a negação em responder perguntas de meios de comunicação públicos, o candidato da direita tem se mostrado intransigente na tentativa de frear a Revolução Bolivariana e reinstaurar o neoliberalismo no país.
A pré-campanha de Capriles tem sido tão grosseira que os deputados suplentes da Assembleia Nacional Ricardo Sánchez, Carlos Vargas e Andrés Alvarez anunciaram a retirada de apoio ao candidato. Conforme publicado em comunicado, a justificativa do rompimento seria o fato de que “está se propiciando um clima de instabilidade e violência, cuja terrível e dolorosa consequência não querem reconhecer e que aprofunda a perversa divisão entre os venezuelanos”. Os deputados também afirmaram que a direita aponta para um plano de “não-reconhecimento dos resultados eleitorais de 14 de abril”.
Segundo William Castillo, presidente do canal estatal Venezolana de Televisión, Capriles recusou o convite para uma entrevista na emissora. “Os veículos públicos do país recebem a instrução de cobrir atos e coletivas de imprensa da oposição, ainda que esta os exclua de suas convocatórias e proíbam sua presença”, diz.
Ele ressalta que outros políticos antichavistas já foram entrevistados em diversas ocasiões. “Garantimos a Capriles que seria tratado com o respeito e a consideração que ele mesmo não teve conosco”, argumenta. Além de não responder os meios públicos em suas coletivas, o candidato da direita vetou a presença destes em várias ocasiões, relata Castillo.
O ‘burguesito’ evoca Bolívar
Capriles e a oposição batizaram sua campanha de Simón Bolívar, libertador latino-americano que estava praticamente esquecido na história venezuelana e que foi resgatado por Hugo Chávez. Contraditoriamente, como assinala Nehomar Ramírez, os que agora evocam a figura de Bolívar são os mesmos que, no golpe de Estado de 2002, decretaram a mudança do nome República Bolivariana da Venezuela, derrubaram a nova Constituição e retiraram, do Palácio de Miraflores, um simples quadro com a imagem do libertador.
Após Nicolás Maduro anunciar que sua campanha arrancará em Barinas, onde nasceu e cresceu Chávez, Capriles demorou apenas três dias para anunciar que fará o mesmo. Além disso, várias expressões típicas do ex-presidente Chávez também tem sido usurpadas pelo oposicionista, como o inacreditável “Somos filhos de Bolívar”. O “Todos somos Chávez”, por sua vez, virou “Capriles somos todos”. O “joelhos em terra”, que Chávez usava para convocar os patriotias do país, também foi mencionado pelo “Burguesito” (como o chama Nicolás Maduro).
No intento de parecer popular, Capriles tem cometido erros grosseiros desde o pleito de 2012: disse que comeu “suapara”, quando o nome do prato típico do interior do país era sapoara; afirmou que experimentou uma empanada “com carne adentro”, quando era uma simples emapanada com o tradicionalíssimo recheio de carne; chamou o povoado de Coquivacoa de “Chivacoa” e errou expressões regionais (mollejero, em sua boca, tornou-se “mollejúo”). Os equívocos não foram perdoados nas redes sociais.
Até as “misiones”, programas que combinam reformas sociais com ação organizada das classes populares, foram lembradas pelo “ex-antichavista”. Em sua campanha, Capriles falou até em “investimentos sociais”, quando há poucos meses assegurava que eram “dádivas e presentes para que o povo se acostume a não trabalhar”.
A data da eleição presidencial que definirá os rumos da Revolução Bolivariana também carrega simbologia à parte: em 14 de abril fará 11 anos que Chávez retornou ao Palácio de Miraflores após derrotar o golpe de Estado de 2002.