Por Renata Mielli, de Caracas

Foto: Joka Madruga
Foto: Joka Madruga
É no Quartel da Montanha, cravado no cume do bairro popular 23 de Janeiro, que descansam os restos mortais do presidente Hugo Chávez. Às 16:25hs um tiro de canhão homenageia o “El Comandante”. Uma cerimônia simples, mas simbólica, que se repete todos os dias sob os olhos dos soldados e da gente que vai até o quartel visitar Chávez. 
Neste sábado, véspera da eleição e, também, dia em que se comemora a vitória popular contra a tentativa de golpe de Estado que ocorreu há 11 anos, entre os visitantes estava o vice-presidente Jorge Arreaza, que foi ao local prestar sua homenagem ao presidente e ao povo que construiu a vitória da revolução bolivariana. Arreaza cumprimentou cada um dos que estavam ali, em frente ao canhão e prontamente atendeu ao pedido para dar uma declaração ao Brasil, sobre a importância deste dia 13 e do dia 14 para a Venezuela.

Jorge Arreaza
“Imagine, desde 1992 este povo tomou um rumo. Rumo para a democracia real, para a democratização de sua economia, da propriedade, da política, da cultura, para buscar nossa identidade, para a união do nosso povo e dos povos do Sul. Temos tido a oportunidade de ir ratificando este rumo nos últimos anos, em 2000, 2004, 2006, 2009, 2012. Agora, em 2013, o faremos sem contar com o nosso líder fisicamente, com o comandante Chávez. Mas o trazemos aqui em espírito, no nosso coração, ele anda por todo o lado com o povo. Amanhã teremos que honrá-lo e ratificar o rumo que ele colocou para a Pátria. E os venezuelanos sabem qual é o caminho para fazer isso. Amanhã é um dia histórico, talvez o dia em que possamos mostrar ao mundo que não haverá volta para a revolução bolivariana”.
Simplesmente uma relação de amor
Foto: Renata Mielli
É na chegada ao salão central do quartel, aonde está o sarcófago de mármore do presidente Chávez – cercado por 4 soldados e sobre a flor de lotus que representa os 4 elementos da natureza: o fogo, a água, o ar e a terra – que a emoção toma conta dos visitantes
Virginia Saballa
Virginia Saballa visitava o quartel pela primeira vez. “A revolução deve seguir. Não podemos deixar que nos tirem o que o comandante nos deixou: o amor, a pátria, as missões, muita coisa boa que o presidente fez e que não podemos deixar que nos tirem. E tudo isso vai seguir agora com Maduro. Chávez nunca se equivocou e não creio que tenha se equivocado com Maduro. Amo meu presidente”, disse em lágrimas.
Idilia Gonçalvez
Também muito emocionada, Idilia Gonçalves, disse que visitar o túmulo de Chávez era uma maneira de estar perto do seu Comandante, “que deixou para o povo, Pátria, educação, socialismo, e tristeza agora, porque se foi. Muita tristeza. E amanhã, teremos um triunfo com o presidente Maduro e vamos lhe dar a vitória, para mostrar ao mundo que a revolução é do povo e que não vamos deixar que nos tirem essa liberdade que nos deixou o presidente Chávez”.
Essa relação do povo venezuelano com a política e com Chávez não é algo de fácil compreensão. Tem raízes culturais, de um país com forte tradição religiosa, muito “apaixonado” em tudo o que faz. No Brasil, um país que não tem a tradição de cultivar heróis nacionais, esse sentimento tem sido traduzido de forma pejorativa e negativa. Mas na América Hispânica, a celebração de mártires e heróis faz parte da afirmação da identidade latina de cada país. É a partir destes valores que se deve tentar compreender a relação de amor do povo com Hugo Chávez.
Martin Blanco
Martin Blanco, que nasceu no bairro 23 de janeiro e foi testemunha de toda trajetória de Hugo Chávez, tentou explicar essa relação. “Ela pode ser simplesmente traduzida como uma relação de amor. É uma relação que rompeu com todos os paradigmas, porque até então os presidentes do país eram muito distantes do povo. Quando veio o comandante presidente e começou a se aproximar do povo e a tomar da mesma xícara de café que estavam tomando os vizinhos, passamos a vê-lo com um de nós. Todos estes dias, enquanto ele esteve em Cuba fazendo o seu tratamento, nós sentíamos que era um familiar, um pai, um irmão, uma pessoa próxima que estava lá. Todos os venezuelanos, inclusive os homens, nós choramos. Para nós venezuelanos sempre foi muito difícil dizer que amamos esse homem, porque na verdade temos muito dessa cultura machista, não é coisa de homem dizer isso, mas cada um de nós chorou por Chávez. E, a cada notícia que chegava sobre a sua saúde, nós pedíamos a Deus para que o presidente se curasse. Não nos importava se ele voltaria para renunciar, só nos importava o seu bem-estar. Então explicar essa relação que há entre o povo e o comandante é muito difícil, poderíamos passar todo o dia conversando e eu não chegaria a concluir. Ele era um homem que cantava ao nosso lado, que caminhava conosco. Então, que te posso dizer? Muitos de nós nem sabíamos que poderíamos sentir isso por alguém”.

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