Conhecidos em toda a Venezuela e respeitados pelos chavistas, os “motorizados”, como são conhecidos os jovens motoqueiros de Caracas, são um verdadeiro exército do povo e da revolução bolivariana. Neste domingo (14), dia fundamental para a continuidade do processo iniciado por Hugo Chávez, eles convocaram as pessoas para que fossem votar e, desta forma, garantiram a vitória por 234.935 pontos de diferença de Nicolás Maduro sobre seu opositor, Henrique Capriles.
Por Vanessa Silva, de Caracas

Motorizados da Comuna Warairarrepano 

Ao exercer seu voto, no centro de votação de Cátia, Maduro ressaltou a importância de que todos comparecessem às eleições: “jovens, anciões, mulheres e homens da pátria: vão votar. E não peço isso somente aos chavistas, mas a todos. Quero uma participação de 100% dos venezuelanos”, afirmou. De acordo com a apuração dos votos, 78,71% dos venezuelanos foram votar mesmo não sendo obrigatório.
Como uma “máquina eleitoral”, os diversos coletivos, dos quais os motorizados são parte, são responsáveis por garantir que as pessoas votem. Assim, mandam carros, motos e micro-ônibus buscarem aqueles que vivem em áreas de difícil acesso, ou que têm mobilidade reduzida, ajudando-os a chegarem aos centros de votação. Outra função é ir: casa a casa, rua por rua dos diversos bairros onde atuam, chamando a população para o voto.
Com carros de som, a convocatória foi feita com a gravação do pedido de Chávez – feito em dezembro de 2012 quando anunciou que faria uma nova cirurgia para tratar-se de um câncer – para que os venezuelanos votassem por Maduro caso ele viesse a morrer. De fato, este foi o maior cabo eleitoral de Maduro. “Voto em Maduro porque foi o último pedido do Comandante e temos que honrar seu legado”. Com mais ou menos entusiasmo, os venezuelanos tinham esta como uma resposta padrão para a pergunta: “por que vota em Maduro?”.
Mostra da organização e organicidade destes coletivos é a forma como monitoram a participação das comunidades. O coordenador do centro de votação Nuevo Horizonte, em Catia, Denis Ortega, contou para a reportagem do Portal Vermelho que, por volta do meio-dia, 35% das pessoas já haviam comparecido ao centro de votação da escola Novo Horizonte, que tem 4.400 eleitores.
Comuna Warairarrepano
Na garupa de um motorizado, o Portal Vermelho acompanhou todo o dia de votação e, para além do preconceito que existe contra os “pobres de motocicletas”, como eles mesmo se definem, o que existem são grupos extremamente organizados e comprometidos com a revolução bolivariana.
Na paróquia de Cátia, a Comuna Frente Revolucionária Socialista Warairarrepano, com seus motorizados, passou o dia se revezando entre ajudar as pessoas a irem ao centro de votação, levar comida para a militância que trabalhava nos pontos estratégicos do bairro e intimidar oposicionistas que desrespeitavam as leis eleitorais e tentavam criar confusão para prejudicar o processo eleitoral.
Desestabilização
“Temos denúncias de que a oposição quer fazer atos para desestabilizar o processo já que não têm capacidade para ganhar estas eleições pelo voto. Então eles estão se reunindo em frente aos centros eleitorais, em áreas onde não pode haver concentração de pessoas. Por isso estamos aqui evitando uma situação de vulnerabilidade com diálogos, sempre evitando a confrontação física, a violência”, como afirmou um membro do coletivo Simón Bolívar.
A palavra utilizada para definir o tipo de ação planejada pela direita é “guarimba”. “Eles colocam fogo, quebram coisas e depois desaparecem rapidamente. Inventam denúncias sobre o processo eleitoral. Dizem que tal urna não funciona, etc. para fazer sabotagem e isso se multiplica, ganha repercussão. No fim, a imprensa diz que fomos nós que causamos estes danos. Isso é guarimba”, explica o motoqueiro.  
No final da tarde, foram diversas as tentativas de guarimba. Desde as 14h, os coletivos de Catia receberam várias denúncias que são feitas pelas próprias comunidades. Nestes casos, o procedimento foi ir até o local e dialogar com as pessoas presentes, exigir dos soldados o cumprimento da lei eleitoral e dar uma mostra de força para intimidar tais grupos.
Ao contrário do que se diz e do que se pode imaginar, o objetivo dos motorizados não é constranger ou mesmo impedir a oposição de votar, mas, como guardiões da revolução, exercer um “papel fundamental na defesa da democracia venezuelana”, como avalia o motorizado da Bolívar ao velar pelo cumprimento da lei e ao ajudar que as pessoas possam cumprir seu dever cívico de comparecer às urnas. Sem os motorizados, a vitória de Maduro seria menos certa e a história da Venezuela, outra.

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