Criação de nova empresa estatal alavanca crescimento com soberania

Leonardo Wexell Severo, de Coro Coro, Bolívia
A cerca de 100 quilômetros de La Paz, em pleno altiplano andino, está localizada Coro Coro, cidade mineira que se confunde com a própria história da Bolívia. Grande produtora de cobre, originalmente denominada Kori Kori Pata “montanha de ouro” ou ocororo “ouro baixo”, chegou a contar com quatro jornais e superar a capital, La Paz, em número de habitantes.
Resultado das políticas neoliberais que devastaram o país vizinho, o local onde se produzia sulfato de cobre foi fechado em 1985 e os mineiros desempregados, com o município praticamente transformado em cidade fantasma.
A reversão da tragédia começa em 2009, com o anúncio da reativação do distrito mineiro pelo presidente Evo Morales, e a entrada em operação, em 26 de outubro de 2010, da primeira planta produtora de cátodos de cobre da Bolívia, explicou o sociólogo Porfírio Cochi, nascido na localidade. “Coro Coro tinha a sua própria moeda e chegou a ser capital do Estado de Antofagasta, território que perdemos para o Chile. Abandonada, não tinha sequer estradas e uma viagem até La Paz chegava a durar oito horas em caminhão. Além de elevar a auto-estima, a retomada da produção abre enormes perspectivas para o desenvolvimento boliviano”, avaliou.

Hugo Carlos Lopez Saravia: Bolívia avança e se industrializa
Conforme o superintendente administrativo e financeiro da empresa, Hugo Carlos Lopez Saravia, com cátodos de cobre vamos “agregar valor”, pois é possível produzir vergalhões, barras, fios, cordas e tubos de elevada flexibilidade e alta condutividade. Atualmente, a empresa produz placas de cobre pelas quais ganha o dobro do que  recebia com o cobre exportado in natura, como fazia antes.
“Com a reativação da mina e a implantação da nova planta industrial, passamos a explorar da extração até a etapa final, produzindo lâminas de cobre. O presidente Evo fez o decreto de criação da nova empresa e está empenhado para fazer dela um dos pilares do nosso projeto de desenvolvimento”, declarou Saravia. Segundo o superintendente, “isso faz parte do projeto da estatal Corporação Mineira de Bolívia (Comibol), à qual Coro Coro está integrada”. “A Comibol trabalha para que as riquezas provenientes das empresas nacionalizadas, sejam industrializadas e colocadas a serviço de todos e não das transnacionais, como era no passado”, frisou.
Sociólogo Porfírio Cochi
A qualidade da pureza das lâminas de cobre produzidas em Coro Coro, explicou Saravia, são de “cinco noves”, ou seja 99,999% – superiores, portanto, às lâminas produzidas no Chile ou no Peru. Atualmente, a produção local – cuja venda está totalmente comprometida até o final do ano – é de 70 a 75 toneladas mensais. “Mais do que dobramos a quantidade produzida em 2013 e projetamos chegar em 2015 com 170 toneladas mês”, relatou.
Contando com 258 trabalhadores, entre engenheiros metalúrgicos, civis, elétricos e mecânicos, parte deles mão de obra qualificada na Universidade Técnica de Oruro, “Coro Coro tem compromisso com a qualidade de materiais ricos e selecionados”. O desafio agora, enfatizou o superintendente, é fazer mais e melhor, “pois quando nosso presidente reativou a mineração, abrindo empresas fechadas pelos neoliberais, deu também mais oportunidades à mão-de-obra técnica profissional boliviana, estimulando a juventude”. “Os resultados nos enchem de orgulho”, sublinhou.

MEIO AMBIENTE
Chefe do Departamento de Meio Ambiente da empresa, Miguel Bracamonte recordou que, após a produção de placas, o próximo passo será a produção de fios de cobre, prevista para 2017. “Isso será um enorme avanço, pois poderá multiplicar por, no mímino, três vezes os recursos recebidos pela empresa, o que vai aumentar também o dinheiro repassado para os programas sociais, como o Renda Dignidade, que beneficia os aposentados, e o Juancito Pinto, que estimula o desenvolvimento escolar”. Hoje uma placa de cobre de 40 quilos é exportada por 300 dólares.
Miguel Bracamonte: cuidado com o meio ambiente é prioridade
“Nacionalizamos e agora industrializamos. Diferente das transnacionais e das empresas privadas que buscam o lucro acima de tudo, temos compromisso com o meio ambiente, a segurança, a produção e a saúde não só dos trabalhadores, como da população vizinha. Usamos um circuito fechado. Reutilizamos a água e não a jogamos no rio. É um novo enfoque que, baseado no viver bem e no respeito à Mãe Terra, nos exige um controle adequado de todo o processo produtivo para evitar a contaminação”, explicou Bracamonte.

Este “processo responsável” que vem sendo implementado, reforçou Bracamonte, deve ser “para dentro”, comprometido com a saúde e a segurança dos trabalhadores, e “para fora”, com as comunidades do entorno, com “muita responsabilidade social”.  “Precisamos colocar os avanços científicos e tecnológicos a serviço do desenvolvimento coletivo e, para isso, é preciso uma política de Estado como a que está sendo adotada. A mineração não pode mais ser sinônimo de contaminação”, enfatizou.


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