Renomado escritor paraguaio defende absolvição dos camponeses de Curuguaty
Guido Rodríguez Alcalá
O caso Curuguaty tem chamado atenção internacionalmente. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pediu explicações ao governo paraguaio, que deve dá-las como signatário do Tratado de Costa Rica. Vários pesquisadores estrangeiros vêm acompanhando o caso; entre eles, o brasileiro Leonardo Wexell Severo, autor do livro Curuguaty: Carnificina para um golpe (São Paulo: Papiro, 2016). A obra, apresentada na sede local da CUT-A (Central Unitária de Trabalhadores Autêntica) em Assunção, circula em nosso país, com boa recepção. Para quem fala castelhano, mesmo sem haver estudado o português, a compreensão se vê facilitada porque se trata de fatos conhecidos e Severo, excelente jornalista, escreve para ser compreendido pelo grande público.

Gostaria de recordar que, em junho de 1811, o Congresso paraguaio concedeu a cidadania paraguaia a todos os americanos que compartilharam os ideais comuns; a este grupo pertence Severo, homem de vocação cosmopolita, que recorreu nosso país para se informar e logo informar com responsabilidade.
O título do livro se refere à manipulação política do massacre de 15 de junho de 2012, que levou à destituição de Fernando Lugo, e terminou judicialmente há uns dias com a sentença política de toda a história do Paraguai: uma condenação a 35 anos de cárcere para Rubén Villalba, que já leva quatro anos preso. (Até então, o recorde de arbitrariedade pertencia ao capitão Napoleón Ortigoza, perseguido por Stroessner, preso durante 25 anos.) Outros processados do caso Curuguaty receberam condenações menores, ainda que igualmente desproporcionais
Carnificina foi publicado antes da sentença, com a esperança de que a injustiça não chegasse tão distante, mesmo conhecendo os antecedentes. Exatamente por isso, para nos dar uma síntese dos antecedentes, o livro hoje tem um valor especial. Para nós que seguimos o caso, esquecemos por momentos sua história, depois de quatro anos de procedimentos judiciais “contra toda a lei e contra toda a razão” (Cervantes).
Desde o início, as acusações da Promotoria foram contraditórias. Segundo o seu relato, os camponeses de Marina Kue (Curuguaty) armaram uma emboscada para que os policiais interventores caíssem numa armadilha mortal, fazendo-lhes crer que tinham propósitos pacíficos. Para reforçar sua acusação, disseram que os camponeses sempre se mostraram hostis e que por isso abriram fogo contra o helicóptero que sobrevoou Marina Kue antes da intervenção policial (também durante a operação).
A entrada da polícia em Marina Kue (segundo o livreto da Promotoria) foi recebido pelos camponeses com um vigoroso tiroteio, que se prolongou durante meia hora. Com que armas? As apresentadas pela Promotoria como de propriedade dos camponeses e instrumentos do crime não permitiam manter um fogo sustentado (algumas delas nem sequer haviam disparado, segundo a própria perícia policial).
Quanto à causa da morte dos seis policiais caídos em Marina Kue, as opiniões dos médicos diferem. O doutor Pablo Lemir, preferido pelo tribunal, afirmou que os policiais morreram por conta dos disparos das escopetas dos camponeses (não se provou que nenhuma destas armas fosse de nenhum deles). No entanto, o doutor Floriano Irala, ex-soldado premiado em um concurso de tiro ao alvo, afirmou que morreram por causa do impacto de armas de grosso calibre. Como a polícia utiliza armas deste calibre, deviam investigar a possibilidade de um erro das forças de intervenção, o que não foi feito. Permito acrescentar que, durante o julgamento, o doutor Lemir afirmou que havia feito uma inspeção dos corpos, não uma autópsia como se requeria (http://www.abc.com.py/…/curuguaty-rechazan-pedido-de-autops…); esta não foi a única omissão ou irregularidade do processo.
Aquele 15 de junho, junto com os seis policias, morreram 11 camponeses, cujas mortes não se investigaram (chamando a atenção da Anistia Internacional e da Oxfam, diga-se de passagem). O alarmante é que existem provas de que vários deles foram executados extrajudicialmente após os tiroteios; entre eles se encontram Luis Paredes, Delfín Duarte e Fermín Paredes, ocupantes de Marina Kue.
Muito poderia ser aclarado estudando a filmagem da operação efetuada pela câmara do helicóptero (não foi a única filmagem). Em que pese à insistência dos advogados defensores, a Promotoria se negou a apresentá-la e terminou por dizer que havia sido perdida. A Promotoria não interrogou o piloto do helicóptero, Marcos Agüero, morto em agosto de 2015 em um duvidoso acidente.
Por que tanta parcialidade, tanta obstinação em impedir que o Executivo destine à reforma agrária, entregando-o aos agricultores, a terra pública de Marina Kue? Pelos interesses do narcotráfico. Esta suposição, manejada inclusive por altos funcionários do governo paraguaio, aparece em Carnificina, e nos obriga a pensar. É uma das suposições razoáveis sobre o caso, em que a sequência dos fatos vai muito além do que possa ser considerado mera casualidade. Depois da matança de junho de 2012, houve vários assassinatos de pessoas bem informadas, como o do dirigente camponês Vidal Vega e do jornalista Pablo Medina, ambos presentes no local do ocorrido.

 

·    Renomado poeta, historiador, jornalista e crítico literário paraguaio



CURUGUATY: CARNICERIA PARA UN GOLPE

El caso Curuguaty ha llamado la atención internacionalmente. La Comisión Interamericana de Derechos Humanos (CIDH) ha pedido explicaciones al Gobierno paraguayo, que debe dárselas como signatario del Tratado de Costa Rica. Varios investigadores extranjeros han seguido el caso; entre ellos, el brasilero Leonardo Wexell Severo, autor del libro Curuguaty: Carnificina para um golpe (San Paulo: Papiro, 2016). El libro, presentado en el local de la CUTA de Asunción, circula en nuestro país, con buena recepción. Para quienes hablan castellano, aun si haber estudiado el portugués, no es difícil comprender ese idioma la comprensión se ve facilitada porque se trata de hechos conocidos y Severo, excelente periodista, escribe para ser comprendido por el gran público. 

 

Me gustaría recordar que, en junio de 1811, el Congreso paraguayo concedió la ciudadanía paraguaya a todos los americanos que compartieran los ideales comunes; a ese grupo pertenece Severo, hombre de vocación cosmopolita, que ha recorrido nuestro país para informarse y luego informar con responsabilidad. 
El título del libro (carnificina: carnicería o masacre) se refiere a la manipulación política de la masacre del 15 de junio de 2012, que llevó a la destitución de Fernando Lugo, y terminó judicialmente hace unos días con la sentencia política de toda la historia del Paraguay: una condena de 35 años de cárcel para Rubén Villalba, que ya lleva cuatro años preso. (Hasta entonces, el récord de arbitrariedad lo tenía el capitán Napoleón Ortigoza, perseguido de Stroessner, preso durante 25 años.) Otros procesados del caso Curuguaty recibieron condenas menores, aunque igualmente desproporcionadas. 
Carnificina se publicó antes de la sentencia, con la esperanza de que la injusticia no llegara tan lejos, aun conociendo los antecedentes. Precisamente por eso, para darnos una síntesis de los antecedentes, e libro tiene un especial valor hoy. Quienes seguimos el caso, olvidamos por momentos su historia, después de cuatro años de procedimientos judiciales “contra toda ley y contra toda razón” (Cervantes). 
Desde el inicio, las acusaciones de la Fiscalía fueron contradictorias. Según su relato, los campesinos de Marina cue (Curuguaty) se emboscaron para hacer caer a los policías intervinientes en una trampa mortal, haciéndoles creer que tenían propósitos pacíficos. Sin embargo, la Fiscalía dice también (para reforzar su acusación), que los campesinos siempre se mostraron hostiles, y que por eso abrieron fuego contra el helicóptero que sobrevoló Marina cue antes de la intervención policial (también durante el operativo). 
El ingreso de la policía en Marina cue (según libreto fiscal) fue recibido por los campesinos con un recio tiroteo, que se prolongó durante media hora. ¿Con qué armas? Las presentadas por la Fiscalía como de propiedad de los campesinos como de propiedad de los campesinos e instrumentos del crimen no permitían mantener un fuego sostenido (algunas de ellas ni siquiera habían disparado, según pericia policial). 
En cuanto a la causa de la muerte de los seis policías caídos en Marina cue, las opiniones de los médicos difieren. El doctor Pablo Lemir, preferido por el tribunal, afirmó que los policías murieron a causo de los disparos de las escopetas de los campesinos (no se ha probado que ninguna de esas escopetas fuera de ninguno de ellos). Sin embargo, el doctor Floriano Irala, ex soldado premiado en un concurso de tiro al blanco, afirmó que murieron a causa del impacto de armas de grueso calibre. Como la policía utiliza armas de ese calibre, debió investigarse la posibilidad de un error de las fuerzas de la intervención, que no se investigó. Me permito agregar que, durante el juicio, el doctor Lemir afirmó que había hecho una inspección de los cuerpos, no una autopsia en debida forma (véasehttp://www.abc.com.py/…/curuguaty-rechazan-pedido-de-autops… ); esta no fue la la única omisión o irregularidad del proceso. 
Aquel 15 de junio, junto con los seis policías, murieron once campesinos, cuyas muertes no se investigaron (llamando la atención de Amnistía Internacional y Oxfam, dicho sea de paso). Lo alarmante es que existen pruebas de que varios de ellos fueron ejecutados extrajudicialmente después del tiroteo; entre ellos se cuentan los ocupantes de Marina cue Luis Paredes, Delfín Duarte y Fermín Paredes). 
Mucho hubiera podido aclararse estudiando la filmación del operativo efectuada por la cámara del helicóptero (no fue la única filmación). Pese a la insistencia de los abogados defensores, la Fiscalía se negó a presentarla y terminó por decir que se había perdido. La Fiscalía no tomó declaración al piloto del helicóptero, Marcos Agüero, muerto en agosto de 2015 en un dudoso accidente. 
¿Por qué tanta parcialidad, tanta obstinación en impedir que el Ejecutivo destine a la reforma agraria, entregándolo a los agricultores, el terreno fiscal de Marina cue? Por los intereses del narcotráfico. Esta suposición, manejada incluso por altos funcionarios del Gobierno paraguayo, aparece en Carnificina, y nos obliga a pensar. Es una de las suposiciones razonables sobre el caso, en que la secuencia de los hechos va más allá de lo que pudiera considerarse mera casualidad. Después de la matanza de junio de 2012, hubo varios asesinatos de personas bien informadas, como el dirigente campesino Vidal Vega y el periodista Pablo Medina, ambos presentes en el lugar del hecho.

 

 
 
 
 

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