Greve geral repudiou política de arrocho salarial, desemprego e
tarifaço do desgoverno neoliberal
Leonardo Wexell Severo
Os trabalhadores argentinos responderam com uma vibrante e massiva paralisação, na última quinta-feira (6), aos reiterados ataques feitos pelo desgoverno do presidente Mauricio Macri contra o seu poder de compra e o desenvolvimento econômico e social do país. A greve geral em repúdio à política de arrocho salarial, desemprego e tarifaço, iniciou à meia noite de quarta-feira com ônibus, caminhões e até aviões suspendendo os serviços. Apesar da violenta repressão – que usou e abusou dos cacetetes, jatos de água e gás de pimenta -, da liberação dos pedágios e até mesmo da franquia nos estacionamentos da capital, Buenos Aires, o acatamento à convocatória das centrais sindicais alcançou os 90%.
“Foi uma jornada contundente”, sintetizou Héctor Daer, que junto com Juan Carlos Schmid e Carlos Acuña compõe a liderança da Confederação Geral do Trabalho (CGT). Daer exigiu a imediata “retificação das políticas e sociais” e ironizou a frase dita por Macri durante a inauguração do ridículo “Mini Davos” portenho: “Bem-vindos a todos, que bom que estamos todos aqui trabalhando”. Ao que o dirigente cegetista respondeu: “ainda estamos tristes porque há milhões de compatriotas nossos que não têm trabalho”.
Frente à acusação de Macri sobre a existência de máfias sindicais, Juan Carlos Schmid foi incisivo: “se há máfias neste país, que as busquem na especulação financeira, é ali onde encontrarão mais de um mafioso”.
Apesar de ter sido aprovada por ampla margem pelo Congresso Nacional, recordou Carlos Acuña, o presidente argentino vetou a Lei Anti-Demissões para barrar a onda de demissões criada por seu próprio governo.
UNIDADE DAS CENTRAIS
As duas Centrais de Trabalhadores da Argentina (CTA) reiteraram o significado da “jornada histórica” para “derrotar a política neoliberal”. Conforme Hugo Yasky, dirigente da CTA dos Trabalhadores, “o país realizou uma manifestação plebiscitária com a adesão à paralisação”. “Basta de demissões, de reajustes salariais abaixo da inflação e de colocar teto nas negociações coletivas”, sublinhou Yasky, para quem “este é um governo entreguista, que veio para destruir os salários e os direitos e encher os bolsos, para enriquecer a elite estrangeira, as multinacionais e o imperialismo”.
Segundo Pablo Micheli, líder da CTA Autônoma, “os trabalhadores deram uma resposta contundente frente ao aprofundamento das políticas econômicas de ajuste deste governo e o único lugar em que a greve teve zero acatamento foi o Mini Davos”.
De acordo com a consultoria Ecolatina, em 2016 a média de reajuste das negociações coletivas foi de 33%, bem abaixo da inflação anual de 41%, o que redundou numa brusca queda do poder de compra. A Ecolatina aponta que as categorias que mais sofreram com o arrocho salarial foram a da construção (11%), seguida pela têxtil (9,6%), comerciária (8,6%) e dos servidores (8%). Para este ano, o governo Macri pretende que os reajustes fiquem amarrados na estimativa oficial dos 17% de inflação, enquanto esta deverá rondar os 25% pelas projeções dos diferentes institutos de pesquisa.
PIB EM QUEDA
O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina fechou o ano passado em queda de 2,6%, informou o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). No mesmo dia da greve, o organismo oficial registrou a profundidade do caos: em fevereiro a política macrista retraiu a capacidade industrial instalada em 60%, o que equivale a dizer que quatro de cada dez máquinas instaladas foram mantidas inativas. Tal indicador não é apenas 4,2% inferior ao medido pelo Indec para igual período de 2016, senão que é o percentual mais baixo computado pelo instituto nos últimos 14 anos. E a tragédia vai além: dos 12 grupos industriais em que o Indec divide a amostra, em cinco a utilização está ainda pior, ficando por debaixo dos 55%: automotivo (31,5%), metal-mecânica (42,1%), têxtil (53,9%), edição e impressão gráfica (47,6%), e plástico e borracha (54,1)%.
Presidente do bloco de deputados da Frente para a Vitória, Hector Recalde declarou que “a greve é uma das conseqüências das grandes mobilizações de março e do modelo implementada. A medida de força foi uma magnitude poucas vezes vista nos últimos anos. Diante disso, o governo Macri respondeu com uma repressão injustificada, tentando dar uma imagem de autoridade, mas o que demonstrou foi autoritarismo”.
RESPOSTA POPULAR
Para Walter Festa, prefeito de Moreno, cidade próxima à capital, a greve foi a resposta popular a um governo que só beneficia um setor ínfimo da sociedade. “Vemos dia a dia como o impacto das tarifas, a inflação, o desemprego e o fechamento de fábricas afeta à classe trabalhadora. É preciso urgentemente reverter o rumo da economia”, assinalou.
Na avaliação de Ariel Sujarchuk, prefeito de Escobar, se a classe trabalhadora decidiu cruzar os braços é devido à política recessiva: “fecharam várias indústrias, caiu o emprego e foi afetado o setor automotivo”.
Saudando a “formidável greve geral”, Jorge Rivas, dirigente da Unidade Socialista para a Vitória (FPV) enfatizou que “o programa de governo de Macri se resume a ajuste fiscal, fome, desemprego e pau”.
Presidente do Partido Forja, Gustavo López ressaltou que a militância “acompanhou a CGT e as CTAs porque se perderam 400 mil postos de trabalho entre os registrados e os informais, porque o salário caiu mais de 10% e porque com o tipo de negociação proposta pelo governo vão perder 10% mais”.