Manifestantes contra “governo antipopular e antinacional”

Transnacionais ampliam lucro enquanto crescem a fome, o desemprego e o subemprego

 
Leonardo Wexell Severo, de Assunção
O resultado da política de submissão aos cartéis e monopólios estrangeiros, aplicada pelo presidente do Paraguai, Horacio Cartes, aumentou a concentração de renda e alastrou a miséria no país vizinho, atesta a Pesquisa Permanente de Lugares (EPH), referente à 2016, divulgada na última sexta-feira (16) pela Secretaria Técnica de Planificação (Stip).
Conforme o próprio levantamento oficial, a pobreza atinge 1.949.272 dos 6.754.408 paraguaios, passando de 26,58% da população em 2015 para 28,8% (aumento de 2% no campo e de 2,5% na cidade). A maioria da pobreza extrema – localizada no setor rural, que concentra 40% da população -, torna evidente o fracasso dos indecentes privilégios dados ao agronegócio que desmata, polui e mata. Os que se levantam em favor da reforma agrária, como os camponeses de Curuguaty, são assassinados ou presos. E ponto final.

Membro da Sociedade de Economia Política do Paraguai, Idilio Grimaldi lembra que com a proteção do Congresso, a quem dominam, multinacionais do agronegócio como Monsanto, Cargill, Syngenta, Dow e Basf “praticamente não pagam impostos”. “A carga tributária do Paraguai é de apenas 13% do PIB. 60% do imposto arrecadado pelo estado paraguaio é o IVA, Imposto sobre Valor Agregado. Os latifundiários não pagam impostos. O imposto imobiliário representa apenas 0,04% da arrecadação tributária, ainda que o agronegócio produza cerca de 30% do PIB”, esclarece o pesquisador, frisando que 2,5% dos proprietários são donos de 85% das terras cultiváveis, 94% delas destinadas à exportação.
A política de privilégios ao grande capital – principalmente o estrangeiro – cobra, evidentemente, seu preço. E bem caro. Na área urbana, que concentra 4.124.616 habitantes, 904.763 são pobres (21,94% da população), enquanto dos 2.169.792 da área rural, 1.044.509 são pobres (39,72%). Das 387.242 pessoas mergulhadas na pobreza extrema (5,73% da população), 67.173 (1,63%) estão na cidade e 320.069 (12,17%) no campo.
“Na população rural a pobreza é mais extensa, tanto em incidência como em quantidade absoluta”, destaca Maria Elizabeth Barrios, da Direção Geral de Estatística, Pesquisa e Censos (Dgeec).
De acordo com Verónica Serafini, pesquisadora do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), a gravidade dos números reflete a negligência no apoio à agricultura familiar, visíveis em instituições como o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAG) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (indert).
“Seguimos sendo muito dependentes de produtos básicos importados, como tomate, cebola, batata, que poderíamos estar produzindo aqui e melhorando as condições das famílias rurais paraguaias”, declarou Serafini, apontando que a produção local também contribuiria para o rebaixamento dos preços dos alimentos pagos pelo conjunto da população e traria mais variedade à mesa. Para a pesquisadora, esta tem que ser uma preocupação das políticas públicas, “afinal, não podemos depender de outros países para consumir produtos básicos”.
“Pela renúncia de Cartes”, defende trabalhador rural

A população pobre – vitimada pela desnutrição que atinge um terço da população – reside em locais cuja renda mensal individual é inferior ao custo de uma cesta básica, estimada em 630 mil guaranis (R$ 375) na área urbana e 446 mil guaranis (R$ 265) na área rural.

No início de junho, a Pesquisa Contínua de Emprego (ECE) relativa ao primeiro trimestre do ano registrou que o desemprego e a desocupação em Assunção e na região central aumentaram em relação a 2016.
A Direção Geral de Estatística, Pesquisa e Censos frisa que o número de desocupados cresceu de 7,6% para 8,4% enquanto subiu de 11,4% para 12,4% a subocupação – subdividida em subocupados visíveis, com menos de 30 horas de trabalho semanais, e assalariados que recebem valores inferiores ao salário mínimo de 1.964.507 guaranis (R$ 1.170). Levantamento do Ministério do Trabalho do Paraguai indica que 60% dos trabalhadores encontram-se na informalidade, recebendo menos de um mínimo.
Dados do Banco Central do Paraguai (BCP) reforçam a gravidade da tragédia: ao mesmo tempo em que no ano passado a economia do país cresceu 4,1% – e a agricultura 2,6% -, as fontes de renda recuaram 3%, tornando ainda mais difícil a sobrevivência dos que não vivem da especulação ou da superexploração da mão de obra alheia.
Frente à avalanche de dados negativos, o governo Cartes limitou-se a dizer que “não há mudanças significativas nos níveis de pobreza”, “o que indica que, basicamente, há um empate técnico”.
No país em que a repressão governamental e patronal à organização dos trabalhadores é total, o nível de sindicalização ronda os 5% e a falta de direitos é uma constante. Mesmo a minoria de trabalhadores que é registrada está à míngua: jornada de 48 horas semanais, apenas 12 dias de férias até completar cinco anos na empresa, sem Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nem contribuição sindical.

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