O jornalista Leonardo Wexell Severo lança no próximo dia 27 de abril, sexta-feira, a partir das 18h30, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista, o seu mais recente livro: “Curuguaty – O combate paraguaio por Terra, Justiça e Liberdade” (Editora Papiro, 100 páginas, R$ 20). 
Nesta entrevista, o autor faz uma análise da campanha internacional pela libertação dos camponeses de Curuguaty, condenados a até 35 anos de prisão por crimes que não cometeram, e do papel da solidariedade, que não considera somente “a mais bela das palavras” como “a única ação capaz de pressionar o governo e fazer com que se faça justiça no país vizinho”. 
“As penas por ‘homicídio doloso’, ‘associação criminosa’ e ‘invasão de imóvel alheio’ a que foram submetidos estampam como o massacre de Curuguaty serve tão somente para criminalizar a luta pela reforma agrária na nação guarani. Afinal, nem um único dos 324 policiais foi colocado no banco dos réus. Apenas as vítimas da ilegal ação de despejo”, sustenta.
A livraria Martins Fontes fica na avenida Paulista, 509, ao lado da estação de Metrô Brigadeiro.
 
 


Depois de quase dois anos, voltas a bater na mesma tecla. Qual a diferença de seu primeiro livro sobre o tema, “Curuguaty, carnificina para um golpe – O povo paraguaio em luta pela democracia e a soberania” (Editora Papiro 210 páginas)?
 
O fato é que esgotada a primeira edição do livro de abertura sobre o tema, me encontrei frente a um dilema. Na publicação anterior, havia sistematizado o que vi e ouvi ao longo dos anos em que participei como Observador Internacional do caso no Tribunal de Justiça de Assunção, nas marchas, protestos e dezenas de encontros, para denunciar uma brutal injustiça. Agora, era preciso calibrar a pontaria para contribuir na campanha pela libertação imediata das vítimas, fortalecida com o recente projeto de Anistia.
 
Qual foi o principal esforço?
 
Foi necessário atualizar, de forma simples e direta, o trabalho de denúncia feito em mais de meia década sobre o que ocorreu em Marina Kue, Curuguaty, em 15 de junho de 2012. Ali houve um sangrento confronto provocado por mercenários, por franco-atiradores que invadiram aquele pequeno acampamento, e que levou à morte de seis policiais e 11 sem-terra e, em decorrência do acontecido, à deposição do presidente Fernando Lugo uma semana depois. Era preciso auxiliar, com mais eficiência, para fortalecer a rede de solidariedade aos camponeses presos, vergonhosamente sentenciados a penas de até 35 anos de cárcere. Como impedir que se perpetue esta terrível barbárie, cometida contra seres humanos cujo único “crime” foi o de lutar pela reforma agrária e conquistar uma terra para plantar e colher?

 

 



Havia muitos pingos para colocar nos is.
Como não condenar o atropelamento do rito processual pelo juiz Ramón Zelaya, cujo patrimônio registrou um “extraordinário crescimento” pelas relações promíscuas com narcotraficantes e setores que dominam o negócio ilegal na fronteira, como reconhece até mesmo a imprensa reacionária? Vale ou não lembrar a postura mais do que tendenciosa do promotor Jalil Rachid, cuja intimidade com a família de Blas Riquelme, que se diz proprietária da área em disputa, o fez ser nomeado vice-ministro da Segurança? Como não registrar que, nesse ministério, Jalil foi o chefe direto dos policiais, enquanto ainda faltavam ser ouvidas 80% das testemunhas? E o que dizer da influência da sua tia Leila Rachid, assessora do presidente Horacio Cartes na hidrelétrica de Itaipu?
E como encaixar a campanha pela libertação dos presos políticos do movimento sindical e popular da região?
 
Estive pessoalmente na Argentina, no Peru, na Bolívia, levando a campanha adiante. É preciso exortar à reflexão sobre a execrável manipulação feita pelos conglomerados privados de comunicação contra a verdade dos fatos, em prol do latifúndio e das grandes empresas nacionais e estrangeiras. Então, como não denunciar a ação do grande capital por trás do manto de silêncio? E o que dizer da participação norte-americana, com a presença das suas Forças Especiais in loco para treinar as tropas no combate à contrainsurgência, preparando o envio de soldados paraguaios à Colômbia e incentivando a “parceria” para a construção de bases estrangeiras? Sobre este ponto em especial, é esclarecedor o recente “acordo” anunciado pelo governo de Maurício Macri para a instalação, na Argentina, de uma base norte-americana na província de Misiones, na tríplice fronteira com Brasil e Paraguai. A receita de Washington é que abramos mão por completo da nossa soberania e passemos a fazer com que as Forças Armadas se dediquem – se possível, exclusivamente – a combater a banda do narcotráfico que não lhe atende. Ou a CIA pensa em apagar da memória coletiva o tráfico de ópio e heroína na China, com que impulsionava os anticomunistas do Kuomitang na luta contra o exército popular de Mao Tsé-Tung? Os EUA querem simplesmente fazer desaparecer as montanhas de cocaína com que financiaram e armaram os “contras”, no enfrentamento aos sandinistas na Nicarágua? E o papel “prostituído” de um parlamento e de um judiciário completamente corrompidos, caninamente adestrados ao poder por anos de submissão à ditadura pró-ianque de Alfredo Stroessner (1954-1989)?
O livro denuncia a manipulação dos grandes conglomerados privados de comunicação em favor do grande capital, em particular dos latifundiários, mostra como os seus interesses caminham interligados.
 
Isto está claro para mim e ficará evidente para o leitor. Nos dias em que os paraguaios relembravam e denunciavam com vibrantes manifestações os cinco anos da carnificina de Curuguaty, as reportagens desviavam o olhar. Destacavam a loucura de mães desesperadas diante de inomináveis tragédias pessoais. Uma senhora que, após acionar a seguradora do carro pelo desaparecimento do veículo, recebeu o corpo do filho, cravejado de balas, confundido com o ladrão. Outra que, enlouquecida, se desfez do bebê, recém-parido, jogando-o nas águas de uma lavadora de roupas. Há um esforço enorme da grande mídia para confundir, desorientar, manipular. Como no Brasil, daí a importância da imprensa alternativa.
Como nasceu este livro?
 
Este livro nasceu frente a tantos e tão descarados esforços dos vendilhões em embutir a descrença na nossa capacidade individual e coletiva de identificação com os demais para conquistar a nova realidade. Ele foi publicado em artigos e reportagens nos jornais Hora do Povo e Brasil de Fato, na Agência Carta Maior e na Revista Diálogos do Sul. Sem a parceria da nossa imprensa democrática e o apoio do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), esta empreitada teria sido impossível.
Tens citado bastante o célebre jornalista argentino Rodolfo Walsh, assassinado pela ditadura em seu país. É uma frase em que ele compara pessoas deixadas à margem, da mesma forma que encontram-se os camponeses de Curuguaty no presídio de Tacumbú, em Assunção.
 
Tenho dito que é como se Rodolfo Walsh gritasse para a história. O jornalista argentino alertou em “Quem matou Rosendo”: “Para os jornais, para a polícia, para os juízes, estas pessoas não têm história, têm prontuário; não os conhecem os escritores nem os poetas; a justiça e a honra que lhes são devidas não cabem nestas linhas. Algum dia, no entanto, resplandecerá a beleza de seus feitos e de tantos outros, ignorados, perseguidos e rebeldes até o fim”.
O que é Curuguaty, o combate paraguaio por Terra, Justiça e  Liberdade?
 

Éuma resposta contundente deste povo irmão, que se empenha em virar a página de submissão e subdesenvolvimento e construir um novo destino. Somando a seu lado, enfrentando os desafios da batalha pela verdade, dei minha modesta contribuição como amigo e companheiro nesta caminhada.



ONDE – Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 500, Metrô Brigadeiro, São Paulo-SP
QUANDO – 27 de abril, sexta-feira, das 18h30 às 21h30
CONVÊNIO COM ESTACIONAMENTO – Rua Manoel da Nóbrega, 88 ou 95.

 

Primeira hora R$7,00 nas compras acima de R$ 10,00

 

 

 

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